segunda-feira, 30 de novembro de 2009

QUAL O CAMINHO?

O Mestre pressente as raízes da mais profunda nostalgia, a de Fausto, quando pergunta: Qual o caminho? Ao que responde através de Mefistófeles.

Nenhum caminho! É o não trilhado,
O não trilhável! Um rumo ao não rogado,
Não razoável. Estás disposto?
Trincos nem cadeados há, a serem removidos,
Por solidões serás a esmo impelido:
Tens tu noção de ermo e solidão?...

E se o oceano a nado transpusesses, vendo ali a ilimitada vastidão,
Verias ainda que onda após onda segue,
Mesmo com o pavor da morte a te espreitar.
Algo verias! Talvez no imenso verde
De mares acalmados, a dança de delfins;
Verias o passar das nuvens, o Sol, a Lua e as estrelas
Nada verás no eterno e longínquo vácuo,
Não ouvirás o som de teu próprio passo,
Não sentirás firmeza em teus pés.

Toma esta chave aqui.

A chave há de farejar o lugar certo.
Segue-a até embaixo: às mães vai te levar.

Submerge pois! Eu poderia dizer: sobe!
Tanto faz. Foge do que já teve origem,
Nos reinos soltos das criações!
Encanta-te com o que há muito não existe!
Névoas ali volteiam incessantes,
Agita a chave, mantém-nas distantes...

Dir-te-á uma trípode ardente,
Que ao fundo dos fundos chegaste finalmente.
Às mães verás em seu clarão:
Umas sentadas, outras vêm e vão,

Ao bel-prazer. Formação, transformação,
Do eterno espírito, eterna ocupação.
Envoltas por visões de infinitas criaturas,
Elas não te vêem, vêem apenas esquemáticas figuras.
Coragem então, o perigo é iminente,
Vai à trípode diretamente,
E com a chave a toca!

Carl Gustav Jung em Símbolos da Transformação, páginas. 191 e 192.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

PASSADO-> PRESENTE <-FUTURO

Em entrevista, concedida à Revista Continuum Itaú Cultural por telefone pelo psiquiatra, psicanalista e professor universitário, o francês Serge Tisseron, traz um pouco da visão do pensador sobre o tema: “A fotografia é uma forma de realidade mista, ou poderíamos chamar de realidade hibrida. Ela está ao mesmo tempo ao lado da realidade objetiva e da subjetiva do criador ou do espectador”.

- Qual a importância da memória, já que ela muitas vezes não corresponde fielmente aos fatos?
- O objetivo da memória é nos ajudar a viver o presente, não nos projetar ao passado. Porque, se nos projetássemos ao passado, não poderíamos mais enfrentar o hoje. Ela não tem a função de nos fazer lembrar, mas, sim, de nos fazer esquecer tudo o que não é útil ao momento atual. Se por acaso não me recordo de algo, eu o fabrico e penso que estou lembrando. Eventualmente, a memória ajuda a reconstruir lembranças que não existiram, de maniera que se possa viver bem a atualidade.

- Até que ponto a ficção é necessária ao entendimento da realidade?
- A ficção opera de forma contrária à da memória. Ela nos faz antecipar o futuro, para também podermos enfrentar o presente. A principal dificuldade do ser humano é conseguir encarar seu presente constantemente. Porque ele é angustiante, complicado, nos faltam referenciais... Então, ocasionalmente, inventamos referenciais por meio de falsas lembranças e projeções no futuro. O papel da ficção é nos fazer antecipar o que está por vir, mas de maneira que se permita enfrentar o agora. Vê-se isso na adolescência, uma vez que os jovens adoram ficção científica, filmes da série Guerra nas Estrelas, videogames. É sua maneira de compreender o presente como um devir. A ficção é a projeção de um futuro sonhado, temido. É preciso compreendê-la não como um mundo paralelo, mas como um mundo que provavelmente antecipa o que virá.

Tisseron aborda estes temas com um pensamento redutivista o que ele mesmo afirma em sua entrevista quando diz não acreditar no inconsciente e sim num mistério. Ele me parece deixar por conta de algo que não possa ser entendido. No que entendo a respeito desses temas é que tanto ir para o passado quanto para o futuro, as fantasias correm soltas como lembranças de desejos não atendidos e esperanças por realizações de novos desejos. É mais prazeroso fantasiar (produto do inconsciente), não exige do inidvíduo nenhuma manifestação objetiva. Já o presente que se traduz em realidade, aquilo que chamamos de “aqui agora” nos cansa, causa-nos fadiga porque por mais concreto que possa parecer é preciso uma disponibilidade para não deixar que as tais fantasias tomem conta para poder proporcionar saídas mais objetivas frente às situações e então realizar algo de fato.

Indagada por um indivíduo sobre a dificuldade de encontrar um objetivo genuíno cheguei a concluir que esse indivíduo, assim como a maioria, tem objetivos equivocados que por conta de suas fantasias entram num labirinto e não conseguem sair até que algo se ilumine e ele se decida a encarar o presente.

domingo, 8 de novembro de 2009

CONTE SEU SEGREDO

As minhas experiências como pessoa e analista junguiana me fizeram perceber que as pessoas ficam presas pelo sentimento de “minha culpa”. Trata-se de segredos guardados e muito bem guardados que julgamos erroneamente serem de tal modo incompatíveis com a opinião pública que se revelados poderiam causar um “você não vale a pena”, “você é um ou uma...”.

De certo para alguns a revelação de um segredo viria de encontro a uma mudança significativa no modo de olhar àquele que o revela. Pessoas mais conscientes olhariam para essa revelação com olhos de compaixão, com naturalidade, o que poderia ajudar a encontrar uma saída para o tal problema. Na maioria das vezes o segredo guardado não passa de uma pequena falha que tomou, através da fantasia, um enorme vulto que o portador dele se fecha, resultando disso outras dificuldades cuja explicação, conscientização está no fato de deixar de ser egoísta e revelar seu segredo. Sim, egoísta. Generosidade se daria, em primeiro lugar, consigo mesmo na busca de solução para sua inquietação.
É como o som incessante de uma gota que sai de uma torneira e vai se tornando cada vez mais barulhenta. A quantidade pode ser a mesma, mas, para nós vai ganhando intensidade. Talvez a solução aqui seja simplesmente trocar a borrachinha que veda a passagem dessa água quando ela estiver fechada. Será que o seu segredo é uma gota de água????

As pessoas dizem: Ah! Se eu contar vou prejudicar alguém. Bem, pode até ser, mas, será que prejudicar é a palavra mais adequada? Talvez neste contexto possa ser o medo de perder o olhar de uma admiração falsa que recebe. O revelar colhe aproximações como separações. As aproximações de pessoas que nutrem um sentimento amoroso para com o outro e separações para aqueles que já não faziam parte de nossas vidas, mas, que egoisticamente, as mantemos junto, sem lhes dar a oportunidade de lutar com seus próprios fantasmas.

ENTÃO, QUE TAL VOCÊ EXPERIMENTAR CONTAR O SEU SEGREDO?????