terça-feira, 22 de janeiro de 2013

MATERIALISMO versus MISTICISMO


“O materialismo racionalista, atitude mental aparentemente insuspeita, é, na realidade, um movimento psicológico de oposição ao misticismo...” Jung
Se o indivíduo tem seu olhar e sua energia voltada para o materialismo (aquisição de bens, posição social, cargos, enaltecimento do corpo e até mesmo o sexo com e tão somente para a satisfação física) em compensação vai em direção ao místico, à magia. Para ele a palavra de, por exemplo,  uma cartomante, astróloga e até mesmo uma simpatia, irá lhe ditar os acontecimentos que farão parte de sua vida. 
Um indivíduo inconformado por não estar conseguindo determinado objeto, poderá procurar um desses mágicos para ouvir dele quais os acontecimentos que cercarão sua vida num futuro breve e ouvirá com credibilidade o que ele tem a falar. Colocará poder em suas palavras e o tratará como um ser que tem contato com o místico, como se essa pessoa fosse a escolhida por Deus para profetizar acerca da vida de outras pessoas.
Diante dessa consulta tão envolvente, por vezes com certa encenação, o consulente sairá de lá esperançoso e/ou motivado ou ainda, assustado com o que ouviu e então, moldará sua vida nas palavras que o tal místico falou-lhe durante a consulta.
“No momento místico, ao contrário, é verdade, sublinha Jung, que emerge aquilo está escondido da consciência (e aquilo que, em graus diversos, se esconde em toda neurose). Mas, com esses conteúdos psíquicos particulares, a consciência não deve chegar a conclusões (redução) e sim confrontar-se (integração).”
Pensando um pouco sobre esse assunto ocorre-me  que se o místico fosse realmente o escolhido teria ele a pobreza dentro de sua casa? Talvez sim, talvez não. Se sim, ele vive tão enfiado no mundo das suas imagens que não consegue a tal conquista anunciada ao consulente e se não, ele é tão materialista quanto o indivíduo que o foi buscar. Acredito que eles fazem seu papel na sociedade ao atender as pessoas necessitadas de um sentido. Dão um placebo (do latim placere, significando "agradarei" é como se denomina um fármaco ou procedimento inerte, e que apresenta efeitos terapêuticos devido aos efeitos fisiológicos da crençado paciente de que está a ser tratado).
Por acreditar piamente no que foi dito na consulta, o indivíduo vai em direção ao objetivo e muitas vezes consegue atingí-lo. Isso pode acontecer não porque lhe foi previsto, mas porque ele reage ao momento em que está vivendo. Como o indivíduo, neste caso, é um ser orientando pelo outro e não por ele mesmo, certamente pagará um preço e poderá buscar novamente o místico para resolver. Fica num círculo vicioso e não entende a vida sem a “ajuda” de um guia.
Não existe nenhuma razão para querer conhecer mais do inconsciente coletivo do que se consegue por meio de sonhos e intuições. Quanto mais se sabe sobre ele, maior e mais pesada a responsabilidade moral, porque os conteúdos do inconsciente se transformam em tarefas e responsabilidades individuais tão logo começam a se tornar conscientes. (Jung, 1991, p. 389) 
Por outro lado, podemos refletir sobre a importância que tem a materialidade para o Ocidente. Nós do mundo ocidental somos constituídos psiquicamente para atingir objetivos externos. O ter tem certa importância para nós e não há como abrir mão totalmente em prol da orientalidade. Imagine-se deixando o Brasil para morar no Himalaia.
Será que esse ter é uma disponibilidade interna de prosperidade ou o atendimento ao que o outro (o místico, os pais, o amigo, o vizinho, o chefe...) quer que seja feito? 
Elizabeth Sartori
Psicanalista – Analista Junguiana
Beth.psicanalista@yahoo.com.br