“O materialismo racionalista, atitude mental aparentemente
insuspeita, é, na realidade, um movimento psicológico de oposição ao
misticismo...” Jung
Se o indivíduo tem
seu olhar e sua energia voltada para o materialismo (aquisição de bens, posição
social, cargos, enaltecimento do corpo e até mesmo o sexo com e tão somente
para a satisfação física) em compensação vai em direção ao místico, à magia.
Para ele a palavra de, por exemplo, uma
cartomante, astróloga e até mesmo uma simpatia, irá lhe ditar os acontecimentos
que farão parte de sua vida.
Um indivíduo
inconformado por não estar conseguindo determinado objeto, poderá procurar um
desses mágicos para ouvir dele quais os acontecimentos que cercarão sua vida
num futuro breve e ouvirá com credibilidade o que ele tem a falar. Colocará
poder em suas palavras e o tratará como um ser que tem contato com o místico,
como se essa pessoa fosse a escolhida por Deus para profetizar acerca da vida
de outras pessoas.
Diante dessa consulta
tão envolvente, por vezes com certa encenação, o consulente sairá de lá
esperançoso e/ou motivado ou ainda, assustado com o que ouviu e então, moldará
sua vida nas palavras que o tal místico falou-lhe durante a consulta.
“No momento místico, ao contrário, é verdade, sublinha Jung, que
emerge aquilo está escondido da consciência (e aquilo que, em graus diversos,
se esconde em toda neurose). Mas, com esses conteúdos psíquicos particulares, a
consciência não deve chegar a conclusões (redução) e sim confrontar-se
(integração).”
Pensando um pouco
sobre esse assunto ocorre-me que se o místico fosse realmente o escolhido
teria ele a pobreza dentro de sua casa? Talvez sim, talvez não. Se sim, ele
vive tão enfiado no mundo das suas imagens que não consegue a tal conquista
anunciada ao consulente e se não, ele é tão materialista quanto o indivíduo que
o foi buscar. Acredito que eles fazem seu papel na sociedade ao atender as
pessoas necessitadas de um sentido. Dão um placebo (do latim placere, significando
"agradarei" é como se denomina um fármaco ou procedimento inerte, e que
apresenta efeitos terapêuticos devido aos efeitos fisiológicos da crençado paciente de que está a ser tratado).
Por acreditar piamente no que foi dito na
consulta, o indivíduo vai em direção ao objetivo e muitas vezes consegue atingí-lo.
Isso pode acontecer não porque lhe foi previsto, mas porque ele reage ao
momento em que está vivendo. Como o indivíduo, neste caso, é um ser orientando
pelo outro e não por ele mesmo, certamente pagará um preço e poderá buscar
novamente o místico para resolver. Fica num círculo vicioso e não entende a
vida sem a “ajuda” de um guia.
Não existe nenhuma razão para querer conhecer mais do
inconsciente coletivo do que se consegue por meio de sonhos e intuições. Quanto
mais se sabe sobre ele, maior e mais pesada a responsabilidade moral, porque os
conteúdos do inconsciente se transformam em tarefas e responsabilidades
individuais tão logo começam a se tornar conscientes. (Jung, 1991, p. 389)
Por
outro lado, podemos refletir sobre a importância que tem a materialidade para o
Ocidente. Nós do mundo ocidental somos constituídos psiquicamente para atingir
objetivos externos. O ter tem certa importância para nós e não há como abrir
mão totalmente em prol da orientalidade. Imagine-se deixando o Brasil para
morar no Himalaia.
Será que esse ter é uma
disponibilidade interna de prosperidade ou o atendimento ao que o outro (o
místico, os pais, o amigo, o vizinho, o chefe...) quer que seja feito?
Elizabeth
Sartori
Psicanalista
– Analista Junguiana
Beth.psicanalista@yahoo.com.br