segunda-feira, 27 de julho de 2015

HISTÓRIA -> FATOS->METÁFORA->ANGÚSTIA->FALTA->DESEJO-> GOZO

O indivíduo percebe a realidade e especula no sentido de espelhar no externo a busca do que lhe falta. Na estruturação do agalma (prêmio) a imagem do inconsciente produz um desejo no indivíduo e na sua busca, uma quantidade de indivíduos produzem mimeses (imitações) que são trapaças. 

Nas estruturações lacanianas matemáticas pode-se substituir qualquer frase de uma situação por uma metáfora, uma definição, uma mensagem do inconsciente para decifrar a conduta do conceito.

Metáfora -> A psicanálise é uma peste. Onde:

Psicanálise s₁ 
Conceito de psicanálise S

Peste   s
Conceito de peste    S

Peste   s
Psicanálise S

Se a psicanálise é uma peste, eu coloco a peste como s no lugar de psicanálise. O ponto chave dessa expressão é a palavra peste que de alguma forma o indivíduo se vê numa situação difícil.

A criança tem uma relação intensa de vínculo com a mãe. De repente essa mãe começa a faltar produzindo uma angústia na criança do seu inteiro projetado. Essa falta é a diminuição da intensidade porque a mãe vai se distanciando produzindo lacunas de presença na relação com a criança e cisões na sua personalidade. Essa falta produz um desejo que resulta num gozo (intensidade de energia que cujo limite ainda não se instaurou).

Se o meu sintoma insiste é porque sou aparafusado ao sintoma por um gozo. O meu sofrimento é uma maneira de gozar. O sintoma é uma satisfação pulsional.” (Cláudio Pfeil)

Gozo vem de usufruto que contem a ideia de frutos que precisam esperar a maturidade para saboreá-los. Ex.: Se meu companheiro fosse dessa maneira... Se meu companheiro fizesse o que eu gostaria... Essas articulações não contem o conflito, são hipóteses. Em alguns casos, seria difícil de enunciar, pois nesse caso, não tem uma figura concreta e, portanto, não pode configurar numa imagem de “Ele faz isso que eu não gosto.” Falta critério de gostar. No entanto, o companheiro não existiria se atendesse essa demanda. Freud chamaria de Édipo insolúvel porque a criança está presa na falta da mãe que vai se instalando lentamente.

Um comentário sobre alguém que ameaça a perspectiva de gozo é uma metáfora e por isso esse indivíduo conta uma história que não é literal, como no filme As Aventuras de Pi. Ele apresenta um sistema, um modelo e quanto mais ele modela para longe do Real (tudo aquilo que não tem a obrigação de ser nomeado), mais ele quer esconder.

Ex.: Uma mulher em análise diz: Longe de ser do mesmo sangue, temo que meu filho esteja em mãos horríveis.
Visão do Complexo de Édipo – o menino tenta escapar do domínio da mãe para que em Nome do Pai (que dá consistência) ele possa produzir imagens.

Na terapia os verdadeiros motivos não são reconhecidos, eles têm um recalque para Freud e são fortemente instintivos para Jung. O instinto, imagem do inconsciente, assalta o Complexo de Ego que contém a necessidade, a obrigação de se instalar na estrutura do Superego, do Pai, do Falo. A questão simbólica é prioritária, substitui um conceito por uma imagem, que se comparar terá uma direção da perspectiva do gozo e toda história tenta retirar o que é inominável do ponto de vista da ação do instinto embutida.

O recalque é a manifestação que substitui aquilo que precisa ser nomeado, que será substituído por S3, S4... Jung chama de regressão e progressão.
Ex.: Menina diz que foi assediada pelo tio. Ela vai ganhando direito a sexualidade e durante algum tempo ela diz que continuava a ser assediada. Vai viver em outro país, casa e tem uma filha. Volta para o Brasil e diz que o padrasto assedia a filha dela. Ela apresenta um quadro de histeria, uma vez que não leva para o simbólico deixando o ato continuar no imaginário, não tendo algo que ela possa ter um gozo. A energia não se intensifica a ponto de chegar ao limite e então proporcionar um mais-gozar.

O quadro das histerias é o corpo falando onde há deficiência de linguagem. A pessoa precisa repetir e repetir até encontrar o significado para que o peso da realidade incorporada vá se aliviando.

Porque as pessoas procuram sempre encontrar um inimigo nas suas histórias?
Para manter o inimigo que é aquele que alimenta o desejo, manter aquilo que está fazendo e que não deveria fazer, manter aquilo que as estão usando de alguma maneira.

Ex.: Mulher participa de um evento e sai incomodada. Entende que sua mãe é a natureza e que sua mãe literal não a agride. A mãe como representante da natureza, contem o inconsciente da criança. O que está faltando para a criança é o todo do Real.

Em Nome do Pai (que dá consistência) cada um de nós tem que abrir mão do Real (tudo aquilo que não tem a obrigação de ser nomeado) onde estabelecemos um desejo imaginário, uma falta para que se faça o sacrifício do todo e penetre no mundo, por isso a mãe ao se afastar da criança promove a instalação do falo (poder gerador, representação de completude, do não sentimento da falta) entendendo que o pai tem esse falo e que também não é literal. Já o menino descobre que ele tem um pênis, que o pai dele também tem, e que a menina não tem. A menina “quer ter” (vontade – o que Freud nomeou como “inveja do pênis”.)

“A hipótese de Freud é a seguinte: se falar abranda o sofrimento, age no sintoma, é porque o sintoma tem a ver com a fala. Se o sintoma fosse totalmente estrangeiro à ordem da linguagem, não haveria razão para a linguagem ter algum efeito no sintoma. Essa foi a incrível invenção de Freud, a qual Lacan leva às últimas consequências: há um elo estrutural entre inconsciente e linguagem. O inconsciente, diz Lacan, é estruturado como uma linguagem. Isso permite entender por que falar acarreta consequências grosso modo terapêuticas.” (Cláudio Pfeil)

A angústia da satisfação do desejo é a falta de tempo, do dinheiro, da presença física, do afeto, etc... Se eu tivesse ISSO (algo que preciso significar) eu faria aquilo.

Enquanto se tem um desejo, o imaginário constrói um caminho, porém se um indivíduo ficar no Real (tudo aquilo que não tem a obrigação de ser nomeado) ele entrará na psicose. Passar para o simbólico é compreender que existe uma falta, mas se o indivíduo não tem o simbólico, vai para o imaginário e em consequência, o sofrimento.


Quando significar uma cadeia de significantes (atos falhos, cistes, apelos, sonhos), a falta é materializada, mas ficando no imaginário que é correr atrás de uma ilusão, parece que existe vida contra a morte do imaginário (solidão, sem sentido, ...). No simbólico (quando você projeta no outro) o indivíduo estará no eixo ego-self. Para Lacan o Outro é o Self de Jung onde o indivíduo deixa de ser falso, um imitador.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

COMO SE DEVE VIVER?

CARTA DE JUNG À SENHORA R.
Suíça
15.12.1933
Prezada senhora R.,
Suas perguntas são irrespondíveis, pois a senhora quer saber como se deve viver. A gente vive como pode. Não existe um único caminho determinado para o indivíduo, que lhe fosse prescrito ou adequado. Se quiser, dirija-se à Igreja católica onde lhe dirão isto e aquilo. Mas este caminho corresponde ao que é seguido pela humanidade em geral. Se, no entanto, quiser trilhar seu caminho próprio, então será o caminho que a senhora há de fazer, que não é prescrito para ninguém, que não se conhece de antemão  mas que surge simplesmente por si mesmo quando se dá um passo depois do outro. Se fizer sempre aquilo que se apresenta como o passo seguinte, então andará da forma mais certa e segura ao longo das linhas prescritas pelo seu inconsciente. Aí não adianta nada especular sobre o que se deve viver. Sabe-se então também que isto não se pode saber. O importante é fazer silenciosamente a coisa mais próxima e mais necessária. Enquanto se acha que ainda não sabe o que é isto, é sinal que ainda temos muito dinheiro para gastar em especulações inúteis. Mas quando se faz com convicção o mais próximo e o mais necessário, então se faz sempre o que tem sentido de acordo com a psique.
Com os melhores votos e saudações cordiais
(C.G.Jung)

in C. G. Jung – Cartas – 1906-1945 - Volume I – pg.148

segunda-feira, 20 de julho de 2015

FALTA, CASTRAÇÃO E PSICOSE

O agalma (valor divino, objeto que liga o homem com a divindade, prêmio) vai se realizando na alma e fora do ego, mas tem regras que são difíceis porque se não há objeto de desejo, não há como ir em direção à ele.

Ex.: Pessoa que tenta comprar mais um imóvel, mas não consegue por mais que trabalhe.
        Enunciado:    comprar um imóvel
        Regra:             não devo concluir esse enunciado
        Estímulo:       inibir a perspectiva de gozo
        Atos sexuais: perspectiva de gozo que ela não consegue.
        Prazer:           trabalhar

No enunciado o indivíduo apresenta uma ferramenta para se alimentar, ou seja, ele se alimenta do desejo de comprar um imóvel para trabalhar mais, chamando a atenção para o fato de estar com fome. Essa ferramenta pode ser qualquer coisa que pretenda fazer e é oriunda da compensação de um desejo imaginário, proveniente de uma castração, uma necessidade de ostentar uma diferenciação. Ex.: comprar carros caros, joias...

Ex.: A mãe vê a filha brincando com meninos e lhe diz que irá prendê-la em casa, já que a filha se assustou com o fato de ter ficado presa, por acidente, em seu quarto. A filha quando adulta faz chaves como se estivesse abrindo todas as portas de sua casa. Existe aqui uma dificuldade erótica onde há uma castração, o ato sexual não sai. A mãe se transformou em um dragão e traz a filha sobre seu jugo.
 
Para Jung a castração começa com a fome a partir do nascimento, sendo que os elementos constituintes da construção da personalidade se instalam nesse ponto. Para o homem é o trauma da castração, da perda simbólica do falo, da necessidade de ter acesso ao Nome-do-Pai (o que dá consistência), instância de poder que precisará ser recuperada de alguma forma. Portanto, instaura-se aqui uma carência que só poderá ser preenchida parcialmente ou transformada em narrativa na clínica psicanalítica, quando, então, no processo de transferência, o analista assume ser o “objeto a” (a letra "a" em minúsculo qualifica uma alteridade, alguma coisa que está para além do sujeito desejante, que ele quer para si e que nunca é alcançado), tornando-se, ele mesmo, este “outro do desejo” do analisando para que ele o supere.

Para a construção da linguagem Lacan vai usar a fase do espelho que acontece nos primeiros dois anos de vida de uma criança onde se instala o narcisismo, onde a mesma quer se ver como imaginário e ela é igual ao do primitivo, tem todas as imagens. A criança vai separando quem ela é e quem ela não é. É por isso que há o ciclo da transformação, de um extremo ao outro, inflação e humilhação para ajudá-la a se constituir. Nota-se que é o masculino que dará nome aos objetos porque é curioso, penetrador, “enfia o seu olhar no escuro”. Na projeção ele é o todo, mas a incorporação das partes é dolorida e toda ideia que ele tem de si é imaginário.

A primeira relação de espelho é com a relação com o outro. Eu rio para ele e ele ri para mim, ou vice versa. Se a criança não é capaz de magnetizar o outro, ela sucumbe. Ela vai juntando os pedaços para ser inteira, pois a fragmentação (os pedaços) é projetada. Pode-se notar a psicose com desenhos de traços mostrando que o indivíduo está fragmentado. Assim, quando falta algo, falta um pedaço, está com a personalidade fragmentada. Vê-se como um monstro. Se o sujeito se olha no espelho e sente que não está completo, sente que sempre será um espelho. Ele sempre será fragmentado.

Um índice dessa impossibilidade é representado, nos casos de psicose, por uma radical proliferação de significantes (significante = uma imagem acústica, que é a junção de letras mais o som que essas letras produzem, como um ato falho, um chiste, um sonho e é desprovido de sentido, involuntário...). O delírio se caracteriza pelo deslizamento de sentido a um ponto em que a proliferação resulta na desamarração do código. É justamente esse um dos dramas do psicótico: a busca pelo um a mais de sentido faz o significante não ter a mínima relação com o significado.

Na psicose o imaginário está separado e, portanto ele é tomado como literal. No neurótico há uma obsessão em fazer isso ou aquilo. O psicótico não tem uma intervenção compensatória, ele, p.ex., prende pessoas porque ele está preso na psicose, é como acuar o outro e dizer: Como você sai agora?

No entanto, um indivíduo nunca irá se completar. Se isso acontecer, ele morrerá porque a última peça se encaixou, mas sempre que existir vida, existirá movimento e a individuação tem o ego estruturado para ir elaborando as faltas. No entanto, a morte exerce uma pressão de compromisso que instaura a obrigação de roubar dos deuses a parte que precisa para se conscientizar. Essa morte não é uma meta e sim uma dinâmica para compreender a individuação, porque sempre se estará em falta e sempre será projetada, porém as características se tornam graves quando a falta é exagerada.

Para Lacan a fase do espelho é, eu quero me ver, quero ver meu próprio imaginário.
Ex.: Convite para almoçar onde duas pessoas discordam com a escolha do local.
Perspectiva de desejo:  fome a ser saciada, tem mecanismo de compensação. Há uma compensação por falta, pois um irá negar todas as propostas do outro, é como a criança que no final diz que não quer ir mais, retardando o gozo mediante algum tipo na especificidade, na convocação para esse gozo.
Enunciado:     almoçar . É a experiência de falta a partir da mãe que dá esse alimento numa condição específica (como, o quê, quando. A mãe se coloca no lugar da criança.

Imagem que configuraria o belo é o retorno do externo para saber se chegou ao belo e se essa imagem do belo implica num sofrimento e se isso para ele é certo.

No Banquete de Platão, Alcebíades é rejeitado por Sócrates quanto a sua beleza. Alcebíades não entende porque Sócrates rejeita sua beleza, que a rejeição de Sócrates é sua própria rejeição e que ele precisa ser rejeitado. Faz parte da construção porque há uma falta, uma vez que a imagem que configuraria o belo para Alcebíades é o retorno do externo, do Sócrates, mas como esse retorno não aconteceu, Sócrates mostra o quanto se sente rejeitado.

O indivíduo olha para algo e o define pela sua falta que é possível ou impossível, quer ou não quer. A falta produz o efeito de interatividade e o desejo dele é ser o desejo da mãe, aí ele se torna o espelho. Ao reproduzir o espelhamento ele faz isso com todo mundo e faz as mesmas cobranças que o impõe. No entanto, a falta produz um vício, um fantasma sempre repetitivo, que se repete a todo o momento, em qualquer situação e todas as frustrações levam a uma compensação. Ex.: A criança queria um bolo de chocolate e a mãe ofereceu um de milho. Quem não gosta do bolo de chocolate é a mãe e não a criança. Se abrir mão do vício, abre mão do desejo da mãe – isso é Édipo.

A falta produz um “fantasma” que se repete o tempo todo em todas as relações do indivíduo. Como o indivíduo não se relaciona com o desejo que tem para chegar a entender que não era o que queria, aciona um gatilho que é o vício, um alternativo que interfere a ponto de o indivíduo achar que se trata de um desejo seu (Comprar mais um imóvel).


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segunda-feira, 6 de julho de 2015

REAL, DEPRESSÃO, AGALMA E A TRANSFERÊNCIA

O conceito de real é o natural, não precisa ser nomeado porque não há obrigação para a verbalização, uma vez que pensar e nomear é uma construção da imaginação. Ao se tornar ignorante da necessidade de verbalização do desejo, uma pessoa em depressão perde o desejo, pois não há consideração sobre o objeto.

 “Depressão é de-pressão: o sufixo “de” indica perda de pressão na existência. Perda de energia, de vitalidade, de desejo, de apetite, de sono, de esperança, de tempo, de prazer. No estado depressivo, a pessoa se confronta com uma falta que, em vez de ser suporte de um desejo, provoca a abdicação do desejo. Trata-se de uma falta articulada a uma perda que não consegue ser simbolizada pela linguagem. Depressão não é doença, não existe como tal: é efeito da linguagem na sua dificuldade de nomear a falta, o objeto sexual.” (Cláudio Pfeil)

Quando há relacionamento com algo o indivíduo verbaliza e a emoção registra o objeto como agalma. Para Aristóteles, no Banquete de Platão, a relação do sujeito com o objeto produz uma ideia. Temos que combinar o Eidos (forma a priori para Platão e arquétipo para C.G.Jung) com o objetos porque o objeto tem uma ideia de relação para chegar ao nomear e lhe causa sofrimento.

O discurso de Alcebíades revela toda a ambivalência da paixão. Ele diz sobre Sócrates: frequentes vezes cheguei a desejar que não mais estivesse vivo; mas se tal acontecesse, bem sei que minha angústia seria maior.  

AGALMA, termo grego que pode ser traduzido por ornamento, tesouro, objeto de oferenda aos deuses, ou, de modo mais abstrato, valor. Representa o ponto pivô da conceituação lacaniana do objeto causa do desejo “o objeto a” (a letra "a" em minúsculo qualifica uma alteridade, alguma coisa que está para além do sujeito desejante, que ele quer para si e que nunca é alcançado, é o objeto de desejo). Este é o objeto tão caro à Lacan.

 O fato de Agalma ser originariamente uma noção religiosa absolutamente não implica que o que ele indica deva recobrir-se de interesse religioso. A  idéia de Agalma denuncia as religiões como criações imaginárias fomentadas pela ilusão da existência concreta de um Bem Supremo. Não seria por menos que toda religião necessite de um tipo qualquer de palavra revelada, isto é, ditada por alguma divindade, de uma palavra não escrita ou ditada através do simbólico, mas vinda diretamente do real, a forclusão que cria uma alucinação psicótica. (FORCLUSÃO -> Freud: expulsão de um conteúdo da experiência para fora do eu, em função do princípio do prazer. A existência na realidade encontrar-se-ia denegada a sua representação. negação da identificação, na medida em que esta assenta na assunção do patronímio. Lacan: falta que dá à psicose a sua condição essencial, com a estrutura que a separa das neuroses. Trata-se de um significante, o Nome-do­-Pai, que foi rejeitado da ordem simbólica da linguagem, reaparecendo no real, por exemplo, sob forma de alucinação. Este significante tem como correlativo o significado da castração. 0 sujeito psicótico, não tendo passado pela castração simbólica, vê-se, em determinadas condições, confrontado com a castração real.). Apesar disto, a busca pelo objeto total, o mais maduro, o mais elevado, tendo por satisfação a sexualidade genital e representando a saúde mental, teria sido uma das ilusões iniciais da psicanálise. Uma ilusão bastante coerente em um Freud e toda uma geração de analistas criada pelo modelo etnocêntrico europeu. Vimos como o objeto do desejo não é aquele cujas qualidades específicas satisfariam o desejo por sua presença ou o frustrariam por sua ausência, sua função é ser causa do desejo, suscitá-lo.

 O objetivo de Sócrates era que os discípulos – desejados, passivos – se apaixonassem por ele, mas não o tivessem apenas como objeto, como a ilusão de um objeto total. A insatisfação sexual, o realce da falta inclusa em todo desejo e todo amor, tinha como finalidade que ocorresse a identificação com ele próprio, Sócrates. Ao invés de serem possuídos ou possuírem fisicamente Sócrates, que elaborassem o luto desta impossibilidade, passando a ser como ele, amando o que ele amava, a filosofia.

O verdadeiro objetivo socrático era a instauração da metáfora do amor, passar do ter ao ser, que os discípulos o substituíssem como amantes, ativos e desejantes, caçando que nem ele a coerência do significante como única forma de se atingir a verdade. A falta implícita em todo Eros-desejo é que cria o espaço capaz do encontro desta verdade, não um “eu sei o que é melhor para você”, que é o discurso do político ou do mestre, por que ao mesmo tempo esta seria a verdade de cada um, que só pode ser descoberta a partir de si mesmo. Pode-se parodiar Lacan e se dizer: parece-me que não se pode dar melhor definição da Psicanálise.

Não existindo outro também não existe sujeito, a relação transferencial necessita de um terceiro, cuja finalidade última seria a de redirecionar todo desejo a seu verdadeiro objeto. Esta é a demanda consciente ou inconsciente de todo paciente, que o analista lhe ensine a amar melhor e ter algum prazer que lhe satisfaça mais.

Bibliografia:
Anchyses Jobim Lopes -Revista Estudos de Psicanálise n° 26 - Círculo Brasileiro de Psicanálise- Seção RJ

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