segunda-feira, 27 de abril de 2015

AMOR E FEITOS



Este texto fala da reconstrução das bases reflexivas de um indivíduo que oferece algo. Na idade média todos os livros eram escritos sob a inspiração das musas e deuses onde o escritor falava do sentimento que o inspirava. O escritor não podia assumir que a ideia era dele porque ela partia de um deus. A lacuna era “o porquê” o escritor se sentia inspirado a falar sobre aquele assunto, por exemplo, o amor.

No Banquete de Platão, Fedro propõe discutir o amor ao invés dos feitos dos deuses já que o que buscamos são os feitos, isso nos leva a refletir sobre o que buscamos com esses feitos.

A criança quer ser alimentada de pronto, ela não pode esperar. Se ela der o que a mãe quer receberá o alimento, então, a criança precisa descobrir o que a mãe quer, sendo essa a primeira condição para conseguir o alimento. A criança como desejante, pode, por exemplo, entender que ser rebelde é a condição e assim o será.

Os feitos não são os nossos desejos e sim do outro. Ganhar medalhas, falar mais de um idioma, construir uma empresa lucrativa... são exemplos de feitos que tem uma lacuna a ser preenchida, uma necessidade de ser ovacionado pelo outro.

Se considerarmos os feitos como condição de amor, quanto mais feitos conseguir, mais longe estará do amor e então, o indivíduo se torna viciado e quanto mais viciado, mais eloquente será para ele porque o feito será maior se conseguir sair do vício. No caso de um indivíduo viciado em drogas, os pais esperam que ele vença o vício como um feito deles, dos pais. É como, na mitologia, Apolo toma o corpo de Heitor e mata os inimigos -> o “feito” é de Heitor e não de Apolo.

O ser desejante (amante) acredita que o amado detém aquilo que ele precisa para ser feliz, ele tem o que Lacan chamou de objeto a (a letra "a" em minúsculo qualifica uma alteridade, alguma coisa que está para além do sujeito desejante, que ele quer para si e que nunca é alcançado). Isso é uma ilusão. O amante acha que o outro pode dar o que ele não consegue, como a criança que quer ser alimentada. O indivíduo busca no amado aquilo que ele busca nele. O outro, como amado, é um agalomai (porta relíquias, caixa onde é colocado tudo aquilo que lhe orgulho). Esse amor se estrutura na relação entre amado e amante. Um tem os recursos e o outro acha que não os tem. Se o amado faz algo e é assim, então se o amante fizer tudo direito como o amado fez, ele terá o amor. O amado se torna para o amante aquele que tem o “Suposto Saber”.


Sócrates não entra ao chegar ao banquete, com isso as pessoas lá dentro ficam angustiadas. Sócrates é o amado, é o “SujeitoSupostoSaber”, assim como o analista que se acha sabedor quando é amado, e quanto mais amantes o analista tiver, mais ele se sente amado porque tem recursos para oferecer alimento.


beth.psicanalista@yahoo.com.br
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