segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O que o indivíduo pensa ao se ver no espelho? Fragmentação, desejo e a fala.

Tudo o que ele pensa sobre si é a partir de como ele é olhado.  Alguém pensou o indivíduo e ao pensá-lo fala dele, assim o indivíduo se modula, criando o que o Jung chamou de persona. O indivíduo só cabe no pensamento de quem o fala, que o define como tal, criando uma fragmentação. Nota-se que o indivíduo que é visto pelos pais tem buracos na cadeira de significantes. Dentro desse olhar limitante do outro o indivíduo se torna limitador para o outro também.

O inconsciente se expressa através da linguagem para facilitar o gozo (intensidade de energia que cujo limite ainda não se instaurou) do desejo. Construímos o caminho mais rápido para uma metonímia para a aproximação de quem somos.

A metonímia é a substituição de uma palavra por outra quando entre ambas existe uma relação de proximidade de sentidos que permite essa troca. É uma figura de linguagem que surge da necessidade do falante ou escritor dar mais ênfase à comunicação. Ex.: O autor pela obra – ler Machado de Assis

Na terapia o indivíduo procura ampliar sua personalidade. Essa cadeia de significantes (atos falhos, cistes, apelos, sonhos) entrelaça com outras para formar o que o Jung chamou de cadeia arquetípica, sentir. Assim como os arquétipos, nenhum significante comportará um significado completo e irredutível, mas deslizará constantemente por uma cadeia de significantes arbitrários, sem nunca ter fim. Só uma atitude comandada pela necessidade pragmática de comunicação é que pode interromper, barrando esse sentido sempre em aberto do significante e fazê-lo cristalizar-se por algum tempo. Mas o desejo sempre conseguirá fazer que os significantes se movam e falará através das fissuras deixadas cobertas.

“O trabalho analítico baseia-se exclusivamente nos significantes, é uma cura pela fala (talking cure) diz Freud. Trata-se de fazer os significantes se encadearem uns nos outros, de produzir uma corrente. Mesmo quando o que se diz parece evidente, para o analista, os significantes nunca são suficientes para uma compreensão. Nunca. Pois na verdade o analista não busca compreender, mas sim fazer com que o analisando produza discurso. O sentido permanece sempre aberto. Quando o analista pergunta: e então? – está implícito: e depois?”( Cláudio Pfeil)

O indivíduo durante a vida inteira vai fazer a mímica diante das argumentações. Na cadeia de significantes esburacada ele e o outro estão dentro de uma aproximação funcional que não revela o propósito correto. O Eu não se vê inteiro para o outro e é isso que o angustia. É como se definisse por partes.

Ex.: Mulher se vende como um corpo porque é assim que o outro a vê. Homem precisa se ver para ampliar sua visão para que ela se modifique.

O indivíduo sendo do jeito que o outro quer instala um vazio e em não conseguir decifrar o outro, sofre pela sua falta. Não existe um agressor fora e sim aquilo que você quer ver. O baile Funk é uma tentativa de sair do oferecimento do corpo, oferecendo-se, porque se o indivíduo se isola não terá uma perspectiva de cura.

A partir dessa fragmentação, ele desejará ser mais inteiro que o olhar que o outro lhe permite e quando descobre que não existe emocionalmente todo o seu querer esta circunscrito ao que ele é. A angústia de não ser decifrado o leva à morte ou a matar o outro.

O indivíduo que não nasceu é aquele que não consegue se ver com tendência a não terminar nada do que começa. Mas é só porque existe o grande Outro (Self, Divino) que não morremos pelo olhar do pequeno outro.

O Nome do Pai tem a lei e não deixa se inundar pelo complexo, não se deixa explodir na cadeia de significantes para não se tornar um Deus.  No seminário 5 – as formações do inconsciente (Lacan, 1957), essa lógica é chamada de lógica da castração. É a lógica da metáfora paterna, que tem o Nome-do-Pai (aquele que dá consistência) como o significante que faz a função de exceção para que a cadeia dos outros significantes se estruture como lei. Se couber no limite compreensível do Grande Outro, o sujeito se significa e a angústia cessa.

O que impede o casal de se amar é que eles estão no campo dos pais. Cada um apresenta o limite do que vê no outro criando uma frustração que é percebida pelo ataque de um parceiro ao outro. Se casar porque qualquer motivo que não o conhecimento, o casamento degenera e acaba. Porém quando não apontar defeitos no outro o casamento de fato de instala.


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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Discurso, fórmula matemática

Lacan chama o sentido da vida de Lei, metáfora paterna, Nome do Pai (que dá consistência). Ele faz uso do Banquete de Platão para entender a relação Sócrates (analista) e Alcebíades (analisando) ou se preferir, amado e amante.

“O sujeito do desejo se apresenta quando o sujeito do significante passa a se relacionar com uma falta de saber. Em outras palavras, com um pequeno furo na sua regularidade. Já em relação ao sujeito do gozo a relação é com uma significação a mais. O sujeito do desejo se encontra na relação com uma falta de sentido, enquanto o sujeito do gozo se encontra na relação com o sentido, que não deixa nada de fora, com o um a mais.” Lacan

Real contem tudo que é verbalizado e não é visto por ninguém porque não existe uma posição para discursar sobre o verbalizado, pois passamos por perto e não nos sensibilizamos. O real é um sistema de percepção da realidade no qual se tem a necessidade de discursar. Exemplo disso é a vida do animal, ele vive no real, no vazio, levando muito tempo para se transformar porque está disposto a uma lei parametrizada pelas regras de cada espécie e o instinto determina as ações. Nota-se que um animal não ataca se não se sentir ameaçado, pois, existe uma lei do ecossistema que regula esse instinto.

A cadeia de significantes (atos falhos, cistes, apelos, sonhos) de um dia, por exemplo, é ditada imagem por imagem, segundo por segundo. Para se conhecer um indivíduo podemos fazê-lo por amostragem, ou seja, um período da vida dele, como acontecimentos do dia anterior, suas motivações e, assim, teremos uma leitura, como quando um médico pergunta ao paciente quais a dores, o incômodo, desde quando. Ele faz uma investigação de imagem a imagem para estabelecer um diagnóstico e isso produz uma capacidade discursiva do paciente que dará o perfil da dor.

Um indivíduo pode, em uma conversa, perder o contato de atenção com a exposição, no entanto, ele não sabe dizer no que estava pensando. Pode ser que no momento em que o interlocutor apresentava um exemplo de cachorro que late, pula, é agressivo, etc.... qualquer dessas palavras o tenha levado a um desconforto e por isso se abstraiu da explicação porque uma das palavras encontrou um buraco na estrutura psíquica, onde não tem um discurso que daria um significado.

Quando há capacidade discursiva mais ampla o indivíduo tem mais recursos para achar soluções, porque irá significar as imagens com os recursos que tem. Se houver um excedente agressivo, então a resposta será agressividade, porém se pegar a sequência subjetiva do outro, não será necessariamente a sua sequência, a resposta terá falta de objetividade, mas possibilitará uma “super-visão”.

Ex.: Nas guerras de Roma, um dia um general subiu à uma colina e viu seu exército lutando de todas as maneiras possíveis e inimagináveis, sem nenhuma estratégia. Naquele momento ele percebeu que deveria montar estratégias e assim o fez. O exército romano que já era invencível, ficou imbatível por mais 1.500 anos conquistando vários povos. Hoje é comum um líder “subir na colina” para ter uma “super-visão”.

O desejo de “ser” não é um desejo de “ser em si” porque existe uma ordem de desenvolvimento na psique que se molda na linguagem e as lacunas, os lapsos de linguagem são aqueles que dão um limite na compreensão do indivíduo. Essa falha na linguagem interfere na compreensão de algo lá na frente.

Ex.:  Um homem que esteve com 10 mulheres cita outro que esteve com 40, achando, então, que teve poucas mulheres. Ele tem buracos na compreensão, desde fritar um ovo até comprar algo e essas mulheres que faltam substituem a linguagem da angústia, mostrando que há um excedente libidinal que produz uma resposta fora de controle, porém há a necessidade de ser traduzido para produzir cultura. Em não ter um discurso, a ação provém do instinto e ele precisa ser esgotado com um discurso sistemático. O psicopata é aquele que não tem discurso, é aquele que não manifesta seus sentimentos, ele não tem discurso.  Podemos entender que todo excesso é falta de discurso onde há um excedente libidinal que produz uma resposta instintiva fora de controle (agressividade, sexualidade, poder.)

.___.___.___.___.  = cadeia de significantes que compõe a lei
.___.___.   x   .___. = cadeia de significantes com instinto que precisa do embate, onde “x” é o instinto, a lacuna. O indivíduo que vejo irá receber as expectativas da lacuna que tenho. É preciso decifrar o instinto.

Lacan afirma que não se pode definir o significante sem o gozo(intensidade de energia cujo limite ainda não se instaurou) , e que não se pode definir o gozo sem o significante (atos falhos, cistes, apelos, sonhos) . Portanto, traz uma nova definição de significante que se refere ao corpo. Essa referência se faz sob a modalidade do sintoma. O sintoma inclui o desejo e o gozo. Trata-se de restabelecer, a partir do Seminário 20, uma noção que não separe o sujeito da substância gozante. Há um real (tudo aquilo que não tem a obrigação de ser nomeado) no sintoma que deve ser incluído no seu conceito. A noção de sujeito do desejo não comportaria o gozo irredutível a essa noção de sujeito do significante.

Para a mãe que tem buracos na sua estrutura psíquica, fruto de uma educação com lacuna, o filho recebe as expectativas desse buraco. Ex.: A mãe não estudou. O filho precisa estudar. Ela quer algo dele que cabe dentro de sua significação e o filho não tem espaço para ir além disto. Ele é o sujeito barrado de si mesmo porque está impedido de saber quem ele é, porque é o discurso da lacuna dos pais, com a sensação de abandono, de estar sozinho, e em não se sentindo o sujeito que determina as ações, é o objeto cuja ação já está determinada.

Tânia Cristina B. Cabral em seu Livro “Os quatro discursos de Lacan e o teorema fundamental do cálculo” discorre sobre as formulas matemáticas utilizadas por Lacan para identificar a estruturação da linguagem, como segue:

 “O sujeito do desejo é aquele que questiona os efeitos do significante, localiza-se como sujeito barrado de gozo, e sujeito diante da impossibilidade de uma última significação. Nesse ponto do ensino de Lacan, o sujeito do desejo se encontra numa posição radical ao nível da privação do objeto, já que há uma confluência entre o objeto a e o falo. Por conseguinte, o sujeito é um objeto negativo (-φ), é falta-a-ser.” Lacan

Segundo Lacan, quando fala, o sujeito se submete a um processo complexo em que se imbricam simultaneamente o imaginário, o simbólico e o real.
O conceito de discurso em Lacan é precisamente este: Estatuto de enunciados. Não se deve entender discurso como uma fala encadeada do professor que o aluno escuta, invertendo-se ocasionalmente esses papéis, quando é o aluno quem fala.
“O aluno abre mão da aprendizagem para manter o jogo da escola. Aprender seria passar a ser outro, isto é, passar a outro saber que não o saber passar. Ele recusa enfrentar-se com essa morte. O saber produzido no caderno é seu gozo perdido: produziu, mas não gozou, só repetiu, não aprendeu, fez de conta.” [CABRAL, 1992].

S é o significante mestre. (agente)
S é o saber, campo da lei, o campo do grande Outro, lugar onde se pode falar em (des)obediência. (trabalho)
é o sujeito barrado, sujeito castrado. (verdade)
a é o gozo, objeto perdido, causa do desejo que se esconde na falha do Outro. (produção)
___ indica um recalque ou uma omissão
O impossível.  É impossível que haja um mestre que faça seu mundo funcionar e fazer com que as pessoas trabalhem é ainda mais cansativo. O mestre nunca faz isso, diz Lacan. O desejo é sempre o desejo do Outro.
   É a barreira que separa os signos que figuram nos denominadores. O mestre só pode se sentir o tal à medida em que se isola do a do aluno e aparece como assumindo a função de mestre por mérito de conhecimento, não por astúcia. Diz Lacan: Instalar-se tranquilamente como sujeito do senhor, isso não pode ser feito na qualidade de mais-gozar.
S1     S
      a

Mantendo as posições de agente, verdade, trabalho e produção veremos que após ter atendido o desejo do Outro, o indivíduo não é mais o discurso do mestre. Os significantes giraram, como o diagrama:
S  a
S  
Se a função da demanda é exercida pelo próprio a, enquanto objeto perdido, isso só é possível se um semblante do a passar ao primeiro plano e funcionar como tampão da falha do Outro.

 “Aí está o oco, a hiância que, de saída, um certo número de objetos vêm preencher, objetos que são, de algum modo, pré-adaptados,  feitos para servir de tampão.” [LACAN, p. 48]

O desejo que move o S em sua função de saber é, então, causado por esse objeto, e constrói sua fantasia a partir do semblante que o objeto apresenta. “ O objeto a é o que são todos vocês, na medida em que estão aqui enfileirados.” [LACAN, p.170]

Discurso do analista ... discurso do objeto

Desejo             Outro               Discurso do analista             agente      trabalho
     a                                     Analisar é impossível                 a             
     S              S                                                                                     S             S
Verdade       perda                                                                         verdade          produção

Esse discurso marca o momento em que o mestre passa a fazer aplicações da teoria dada e passa alguns exercícios para serem resolvidos ou o momento da prova. Na posição do agente temos o objeto a, que subitamente muda de semblante: não é mais o estudante que comparece aí, mas o que se pode chamar objeto do conhecimento, em geral sob a forma de um exercício a resolver. A verdade desse momento é o saber organizado que, agora, não deve aparecer como tal, mas, sim, sob a forma de uma intimidade do indivíduo com o objeto de conhecimento. É preciso que o exercício não seja mera aplicação de fórmula, para que não se recaia no discurso do mestre. É preciso que o indivíduo busque os elementos necessários à solução na história de seu saber, na teoria, S, que agora comparece como fundação recalcada. Quem trabalha para isso é o , o sujeito castrado, este que se contentava com sua posição de estudante da teoria e a quem se pergunta, quando tira zero na prova: Afinal, o que você quer? Poder-se-ia completar, para deixá-lo espantado: Não vê que agora é seu o desejo que move o processo? [CABRAL, 1992].

Sua produção deve ser agora a solução. No momento em que o aluno entrega a prova, algo é dado por pronto: É isso aí. É o que pude fazer. Sou o que sou. Produziu um S, significante sem outro significado. Quando entrega a última prova e é recompensado com o diploma, ou com o passe, quando se trata da formação de psicanalistas, o aluno volta a ser o sujeito barrado sob esse significante S . É isso que o autoriza a ser professor. Com a formatura, recupera-se o discurso do mestre e a história se reproduz.

Em algum lugar deve estar escondida a razão última, a essência, dessa relação. De posse dela saberei orientar-me tanto na demonstração quanto nas aplicações.

Em nossos termos, diria: Esse a que me falta e que talvez o Outro tenha, é o a sustentado por um saber S de posse do qual eu me produzirei como senhor S. É o desejo do , funcionando a partir da posição do Outro, que faz o discurso do objeto. Pondo-se na posição do Outro, examina, interrogando o objeto, posto na posição do desejo. Aí começa sua via crucis.”

A relação afetiva entre duas pessoas fragmentadas tentando manter a relação é a Torre de Babel onde ambas são objeto e não sujeito da ação, aí a relação se torna promíscua. Esses buracos resultam na desmotivação, não há ação. Ex.: Uma mulher diz que o marido é chato. Essa leitura que faz do marido é um buraco na sua estrutura que a impede de gostar dele. Se ela fechar essa falta irá acontecer um conjunto de novas atitudes que resignificarão o sujeito tornando-o melhor porque ele se tornará a expressão do desejo.

A rotina é uma obrigação enquanto sujeito barrado até criar uma opção, no entanto, se algo acontece de diferente causa irritação.

No imaginário não existe sujeito consciente e ele se torna um “ser” quando fecha os buracos instintivos significando-os. Quando uma pessoa se coloca na terceira pessoa, ela está muito longe dela. Ela pode produzir soluções fantásticas criadas pelo Self que engole o eu. Ex.: Pelé = Suspensão do eu.  Mas com a terapia ela vai saindo do “outro” (mãe) para o “Outro” (Pai, Divino).

Os nossos companheiros são de fato como são ou são produtos daquilo que compreendo dentro da minha cadeia de significantes?
O que temos na nossa frente é um Sujeito Barrado. O seu sofrimento é o buraco, o espaço vazio. Falta uma emoção que reconhece que ele não é o sujeito. A maneira pela qual se percebe esse buraco é dada pela projeção. Se o sujeito não ficar apavorado e não achar o sujeito preso, não resolve fecha o buraco na psique por isso que há um momento que a morte é uma situação de cumplicidade por ter um significado a tal ponto que não há mais espaço para a significação.

Não existe loucura; só existe a incapacidade para entender.

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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Dizer e dito - O Imaginário

As pessoas podem achar que estão sendo roubadas porque o que foi dito contem um roubo daquilo que eu sou e que não foi dito. A posição do masculino é sempre uma posição de quem está sendo roubado. O falo (poder gerador, representação de completude, do não sentimento da falta) é um ter e quem tem, pode. A mulher não tem o falo e ela gostaria de ter, mas ela é um ser desejante porque tem a energia da motivação.

“Lacan esclarece que essa suposição do corpo como uma substância gozante advém daquilo que sobre ele o sujeito não consegue dizer. Dessa maneira, o ser permaneceria um “fato do dito”. Tudo o que o processo de análise demonstraria é que “há relação de ser que não se pode saber”, que, mesmo permanecendo impossível de se escrever, o ser é “interdito, ele é dito entre palavras, entre linhas.” Lacan 1972

A criança entende que existe a partir do olhar do outro sendo que esse olhar é de “si para si”. Ela acha que deseja o imaginário. Por ex.: carro, a casa, resolver um problema. Quando o masculino entende que quer solucionar no para si alguém lhe rouba e ao achar que falta para o outro, falta para si. Quando esse “objeto a” (a letra "a" em minúsculo qualifica uma alteridade, alguma coisa que está para além do sujeito desejante, que ele quer para si e que nunca é alcançado) se instala como função psíquica compensatória, é preciso procurar responder sempre quem é esse “outro” que se coloca no lugar do meu desejo, pois acha que este desejo do outro para si é um desejo para si. Ele acha que vai realizar o desejo do outro e o desejo é dele mesmo, como no caso da mulher que tem a vontade e o homem arquetipicamente, tem o falo para satisfazê-la nas suas insatisfações. É preciso dizer para gerar a falta, pois qualquer história está de si para si, como falta.

Quem não existe?
O SujeitoSupostoSaber (aquele que sabe o que é melhor para o outro).

É comum condenar uma pessoa, fui roubado, fui abandonado, não tenho atenção. Tudo começa com a metáfora, com a falta. A falta é natural no ser humano para desejar que é coberta através da metáfora.
Ex. Homem diz ter medo de casar com mulheres feias. O que ele tem medo é de se casar porque todas as mulheres para ele são feias.

Entende-se que todas as motivações são para atender esse outro (outro com o minúsculo é qualquer um que terá seu desejo atendido pelo indivíduo). Um indivíduo só existe como tal porque os outros o veem assim. Esses outros vêm na sua direção para solucionar sua falta. A motivação do indivíduo não está no seu ego e por isso ele quererá e entenderá a necessidade de elaborar se não houver motivos inconscientes que o impeçam. O motivo do inconsciente é aquilo que é percebido como objetividade e que é um desejo do outro embora o indivíduo acredite ser um desejo dele.

Tudo o que foi conquistado foi devido a própria subjetividade porque é o indivíduo quem determina o que o outro é para si e que deseja que o outro seja para sua comorbidade. Subjetiva tudo. Ao entender que é um ser subjetivo pode se perguntar por que deseja isso ou aquilo.

Como se constrói contato com o prazer?
Sanando o incômodo. Pode-se sumir com o incômodo e isso não vai adiantar porque ele aparecerá em outro lugar. A partícula “se” mostra que o indivíduo está na subjetividade. Enfrente aquilo que está causando medo falando para você mesmo. Quando conseguir se conscientizar de que está subjetivando o contrário acontecerá.

Quem é que transporta para dizer?
É a fé. É o grande Outro (divino).

Esse grande Outro é que me dá sentido para ser o “outro”.
1º - Discurso inicial -> o indivíduo acha um culpado que pode durar anos.
2º- Sou eu quem decide minha objetividade com a minha subjetividade. Sou o agente da minha angústia.
3º- Um evento escapa da subjetividade do outro que resulta em um debate difícil. O indivíduo e o outro se deparam com um evento que nada está acontecendo e que estão apenas subjetivando.

O que acontece quando espero essa fase?
A compreensão da subjetivação muda completamente a conduta geral.

Quem é que obriga o indivíduo a isso? De onde vem essa ação?
Para enxergar uma nova dimensão, é preciso ser o olho.

Porque o indivíduo faz isso? O que é isso que lhe impede?
Nada é objetivo, se se atrasa, se gosta disso ou daquilo. Instala-se como um observador diferente com um dizer que busca um dizer. Buscando o dizer (o dizer é do inconsciente), o indivíduo se sente mais convocado.

 “O analista está aí para fazer com que o analisando ouça a verdade do que é dito. A linguagem, por natureza, supões que uma palavra queira dizer aproximadamente a mesma coisa para todos. Na prática analítica, no entanto, trata-se de ir além e supor que a mesma palavra signifique algo singularmente para um sujeito e não para outro. É o que Lacan chama de significante. Significante não é exatamente idêntico a palavra. Pode ser uma palavra, é claro, desde que esta represente um sujeito, pois nem todas as palavras representam o sujeito. O que isso quer dizer? Simplesmente que a estória de cada um de nós é marcada por certas palavras que nos foram endereçadas, e que possuem esse valor particular: elas nos identificam, nos singularizam totalmente. Em cada caso, é preciso ouvir a significação específica atrelada a um significante que representa um sujeito.” (Cláudio Pfeil)


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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

"SI para SI"

Com base na linha freudiana a metáfora paterna, o Nome do Pai (que dá consistência) vem da estruturação fálica da realidade. Falo e pênis não é a mesma coisa. Falo é o poder gerador, a representação de completude, o não sentimento da falta, é o representante significante (atos falhos, cistes, apelos, sonhos) do indivíduo na mulher e no homem. Significante que exige do ser humano a reprodução sistemática do imaginário.

Temos o imaginário, um sujeito, uma relação do sujeito com o imaginário. O sujeito se vê diante do espelho como uma falta, pois há uma distorção da alto imagem criando, então,  uma linguagem diante das metáforas de se ver. Ele estabelece as metáforas daquilo que está observando como fragmento e na construção metafórica ele busca cobrir a falta do seu significado sendo que a perspectiva de gozo (intensidade de energia que cujo limite ainda não se instaurou) é que o remete ao imaginário porque aquilo que se diz não é igual ao que se quer dizer (o dizer pertence ao inconsciente), uma vez que o que foi dito é aquilo que pertence ao imaginário.

Ex. Mulher viveu seus primeiros 15 anos numa casa que não tinha nada e estava sendo construída pouco a pouco. Os pais sempre decidindo, quando tinham um dinheiro sobrando, qual o piso, qual a janela, etc. Essa mulher descrevia a casa como com cheiro de cinza. Ela se forma arquiteta e se casa com um engenheiro.  Ela tem uma motivação em construir casas do desejo dos pais e as desenha para terminar a casa onde morava, para que então, os pais lhes dê atenção.

Com a personalidade fragmentada ela não consegue terminar os desenhos das casas se mudando várias vezes. Ela precisaria terminar a casa e morar lá o que constituiria uma estrutura psíquica não fragmentada. Ela reclama que as pessoas dependem muito dela, sua função psicológica principal é a intuição (está sempre à frente). O marido tem como função psicológica principal a sensação (que executa as tarefas) e pede para que ela defina. Há uma reflexão do “si para si”. E não sendo mais arquiteta significaria resolver o “si para si”. (“Si” e “para si” são a mesma pessoa).

O que você quer saber se não quer saber nada disso?
Quer saber o dizer e não o que foi dito, pois o objetivo é o imaginário.

Durante 15 anos essa mulher ouviu os pais decidindo que peças iriam colocar na construção da casa e assim ela não entendia receber o olhar deles. O marido, segundo ela, é lento e assim aumenta a sua angústia do que falta. Quando fala mal do outro é porque falta uma atitude desse outro que lhe faria feliz. É ela que não quer que as casas terminem e  acha que é o marido que quer.

Lacan introduz a noção de desejo para afirmar que o desejo do homem é o desejo do outro; ou seja, é o desejo de se fazer reconhecer no desejo do outro. A constituição primordial de cada desejo, efetivada pela mediação de uma imagem exterior, impõe de uma só vez a alteridade e a alienação no próprio núcleo deste desejo. 

Em função da alteridade e alienação, Lacan caracteriza o conhecimento humano como conhecimento paranóico, sempre acompanhado por certa agressividade. O reconhecimento da imagem especular de si é necessariamente desconhecimento, pois se trata de uma imagem exterior, alienante, que ademais permanece necessária para a constituição estável de si. 

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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O QUERER É DO FEMININO E O TER É DO MASCULINO.

Na construção da consciência, o masculino, através do falo, retira informações do Inconsciente para ser verbalizado, falado. Freud conta a história de uma criança com um carretel e linha que joga por baixo da cama e num vai e vem, cada vez que o carretel retorna, ele fala “ah!”. É o mesmo que uma criança que tira e põe a tampa de uma caneta. Ela faz aparecer o falo.

Freud entende que a criança sofria o abandono da mãe e com o carretel ele comanda a falta ao puxar o carretel de volta. Se tentar dominar a falta, o TOC é instalado o que, para algumas linhas, é um jogo de tortura, insinuando que vai dar e não dá. É um ato simbólico que visa produzir uma dor que está lá e cada falta tem sua especificidade.

No simbólico a mulher nunca pode TER. Ela não compreende que ela é a produção da falta. O feminino sempre QUER, ele tem a VONTADE que é o combustível, que não é convocado a um impulso devastador, é receptivo, prima o conforto. A investigação tem um limite, um “tom”, a mulher sempre irá investigar menos que o homem. A fêmea sempre é receptiva para a semente, mas tem uma regra: tem que ser o melhor macho para fecundá-la. O critério da fêmea para essa escolha e a preocupação do feminino é carregar a semente, por isso a mulher irá forçar o homem a evoluir. É o papel do feminino fazer a pressão. Qual é a ideia dessa pressão? O ganho de consciência. Todo discurso de uma mulher é um discurso do feminino. Não importa como essa mulher é (histérica, masculinizada, etc...)

Se a mulher se relacionou sexualmente com outro, ela produz uma falta para o companheiro porque ele, o outro, roubou dela algo que era seu. Psicologicamente, ao entender que a mãe não é virgem ele se frustra porque o pai é quem tem a mãe uma vez que a virgindade é algo que é retirado do inconsciente no que ninguém pôs a mão. As coisas não estão acontecendo no literal e sim no imaginário, mas viver no imaginário é viver no mimesis (mentira, imitação). A pessoa vivendo no imaginário procura alguém que não esteja nesse imaginário.

Todo homem é viril. Hoje a virilidade masculina do homem moderno é diferente da do homem antigo. Antes ele tinha que lutar com espadas ou matar ursos para comer, hoje ele paga contas. O homem acredita TER e não tem, mas o que ele TEM é o que a mulher QUER, porém não haverá paz se o TER se transformar em uma posse e os EXCESSOS DE QUERER e TER são as causas dos mal estares na mulher e no homem.

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