No Banquete de
Platão, Fedro propõe discutir o amor ao invés dos feitos dos deuses já que o
que buscamos são os feitos, isso nos leva a refletir sobre o que buscamos com
esses feitos.
A criança quer
ser alimentada de pronto, ela não pode esperar. Se ela der o que a mãe quer
receberá o alimento, então, a criança precisa descobrir o que a mãe quer, sendo
essa a primeira condição para conseguir o alimento. A criança como desejante,
pode, por exemplo, entender que ser rebelde é a condição e assim o será.
Os feitos não são
os nossos desejos e sim do outro. Ganhar medalhas, falar mais de um idioma,
construir uma empresa lucrativa... são exemplos de feitos que tem uma lacuna a
ser preenchida, uma necessidade de ser ovacionado pelo outro.
Se considerarmos
os feitos como condição de amor, quanto mais feitos conseguir, mais longe
estará do amor e então, o indivíduo se torna viciado e quanto mais viciado,
mais eloquente será para ele porque o feito será maior se conseguir sair do
vício. No caso de um indivíduo viciado em drogas, os pais esperam que ele vença
o vício como um feito deles, dos pais. É como, na mitologia, Apolo toma o corpo
de Heitor e mata os inimigos -> o “feito” é de Heitor e não de Apolo.
O ser desejante (amante) acredita que o amado detém
aquilo que ele precisa para ser feliz, ele tem o que Lacan chamou de objeto a (a letra "a" em
minúsculo qualifica uma alteridade, alguma coisa que está para além do sujeito
desejante, que ele quer para si e que nunca é alcançado). Isso é uma ilusão. O amante acha que o
outro pode dar o que ele não consegue, como a criança que quer ser alimentada. O
indivíduo busca no amado aquilo que ele busca nele. O outro, como amado, é um
agalomai (porta relíquias, caixa onde é
colocado tudo aquilo que lhe orgulho). Esse amor se estrutura na relação
entre amado e amante. Um tem os recursos e o outro acha que não os tem. Se o
amado faz algo e é assim, então se o amante fizer tudo direito como o amado
fez, ele terá o amor. O amado se torna para o amante aquele que tem o “Suposto Saber”.
Sócrates não
entra ao chegar ao banquete, com isso as pessoas lá dentro ficam angustiadas.
Sócrates é o amado, é o “SujeitoSupostoSaber”, assim como o analista que se
acha sabedor quando é amado, e quanto mais amantes o analista tiver, mais ele
se sente amado porque tem recursos para oferecer alimento.
beth.psicanalista@yahoo.com.br
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