segunda-feira, 11 de outubro de 2010
sábado, 9 de outubro de 2010
O QUE SE ESPERA...
Segundo Erich Neumann o desenvolvimento da consciência transita por cinco fases desde a vida intra-uterina até os 21 anos quando, então, considera-se que o ser humano entra no momento de compreensão de si e do coletivo, na maturidade.
Na primeira fase, que vai desde a vida intra-uterina até os seis meses, aproximadamente, o ser humano não tem consciência de si, vive de acordo com os desejos e necessidades maternas. A inconsciência é tamanha que a comunicação em ambos é feita como se mãe e filho fossem uma única pessoa. Essa fase é caracterizada pela “participation mystique” que significa que esse ser não consegue distinguir-se como sujeito e tampouco como objeto, uma vez que ele é o poder que à mãe foi dado.
Se pararmos para refletir um pouco sobre essa primeira fase e voltarmos lá na história da humanidade, notaremos que a criança, assim como o homem das cavernas, vive no paraíso, onde são atendidas todas as suas necessidades de sobrevivência, não por ela, mas sim pelo o outro sem que precise dispender qualquer energia para obter êxito. Muitos seres humanos, já na fase “adulta” ainda se sentem nesse paraíso achando que o mundo entenderá quais são seus desejos e os satisfará, assim como a mãe o faz quando lhe dá o alimento no momento em que ele tem fome.
É o início ao culto do feminino onde a mãe se torna a Grande Mãe e a ela tudo é feito. É ela que deve ser cultuada e venerada porque é a matriz geradora de vida. Já na fase adulta muitos seres humanos ainda se vêem idolatrando essa mãe como a fonte geradora e à ela devem obediência, além de se sentir importante para ela e somente para ela. A mãe, por outro lado, faz de seu filho aquele que a salvará dos infortúnios que a vida propõe como se esse ser tivesse a responsabilidade e obrigações para com sua vida.
Na segunda fase, que vai dos sete meses aos cinco anos, o ser humano ainda vive numa ligação estreita com a mãe. Ele vive o mágico, usa seu corpo como elemento sedutor, é prepotente e se sente como aquele que dá o poder para a mãe. Ele começa a se perceber como sujeito, porém ainda não tem conhecimento e entendimento do que pode ou não fazer por sua livre escolha. Trata-se do “puer”, ou seja a criança, o infantil.
O “puer” é aquele que tem como atitudes positivas a espontaneidade, a criatividade, o interesse ativo pelas coisas de modo geral, a curiosidade, a participação, etc. e como atitudes negativas o afeto vivido na fantasia, considera o outro como uma ameaça, a entrega ao outro é um sinal de perda da liberdade, a preguiça, atitudes inadequadas diante de uma situação, a repressão de sentimentos, inadaptação social, isolamento, narcisismo, atitudes desdenhosas em relação à vida, etc.
Na terceira fase, que vai dos seis aos doze anos, o ser humano começa a adquirir consciência. Nessa fase a criança começa a se afastar da mãe, acha que o outro lhe causa problemas, se vê considerando a mãe ora como boa e ora como terrível. É a fase onde as crianças começam a acreditar em bicho-papão, em fantasmas. Aqui começa a entrar em cena o espírito como elemento propulsor para alcançar objetivos.
Na antiguidade é o momento da aparição das bruxas, dos dragões, dos deuses gregos, divindades que refletem as características psíquicas.
Na quarta fase, que vai dos treze aos vinte anos, o ser humano obtém recursos para se emancipar afastando-se totalmente da mãe. É a fase onde o ser humano se envolve com crenças e preconceitos. É o início de um segundo nascimento onde ele faz a separação do que é confortável, aconchegante e a lei, a ordem, a disciplina.
Nessa fase é comum o êxtase, o temor e ao mesmo tempo, o divino e esplendoroso. Tem-se início a moral e o refinamento da alma através do medo, da autoridade.
Na quinta e última fase, que é a partir dos vinte e um anos, o ser humano compreende seu papel na sociedade sabendo o que tem que fazer. Começa, então a viver a maturidade com luz e conhecimento. É o momento da busca de um parceiro afetivo-sexual. É a fase da conquista e libertação do herói. Segundo Byington, “Trata-se de um ego capaz de desapegar-se do seu narcisismo, ’virar a outra face’ ou ’amar ao próximo como a si mesmo’ porque sabe a função do Outro no seu desenvolvimento, a tal ponto que pode realmente empatizar o Outro e imaginar trocar de posições com ele”. Fase da compaixão, de empatia, de amor ao próximo. É a fase em que o homem busca o amor pelo amor, a ética pela ética, a justiça pela justiça, de acordo com uma vontade interna por valores interiores que transcendem a uma censura imposta do exterior.
É nessa fase que os símbolos de totalidade estão presentes, como a Eternidade, o Infinito, o Cosmos e a Existência.
O que se espera é que o desenvolvimento da consciência siga estas cinco fases dentro de um período estabelecido que vai da vida intra-uterina até por volta dos vinte e um anos, tendo então a fase da maturidade e consciência de si e do todo.
O que acontece é bem diferente do que se espera, em muitos casos, ou podemos dizer muitos dos seres humanos somente se dão conta de que há necessidade de um desenvolvimento psíquico quando chegam à meia idade, uma vez que são pressionados pela insatisfação de desejos não atendidos. Desejos esses que se situam entre a satisfação de uma necessidade e a demanda de amor. Essa insatisfação leva, na maioria dos casos, o ser humano a buscar meios de auto-conhecimento para chegar à fase da plenitude e satisfação plena.
Elizabeth Sartori
Baseado nos textos de:
Erich Neumann em História da Origem da Consciência
Carl Gustav Jung em O Desenvolvimento da Personalidade
Paolo Francesco Pieri em Dicionário Junguiano
Na primeira fase, que vai desde a vida intra-uterina até os seis meses, aproximadamente, o ser humano não tem consciência de si, vive de acordo com os desejos e necessidades maternas. A inconsciência é tamanha que a comunicação em ambos é feita como se mãe e filho fossem uma única pessoa. Essa fase é caracterizada pela “participation mystique” que significa que esse ser não consegue distinguir-se como sujeito e tampouco como objeto, uma vez que ele é o poder que à mãe foi dado.
Se pararmos para refletir um pouco sobre essa primeira fase e voltarmos lá na história da humanidade, notaremos que a criança, assim como o homem das cavernas, vive no paraíso, onde são atendidas todas as suas necessidades de sobrevivência, não por ela, mas sim pelo o outro sem que precise dispender qualquer energia para obter êxito. Muitos seres humanos, já na fase “adulta” ainda se sentem nesse paraíso achando que o mundo entenderá quais são seus desejos e os satisfará, assim como a mãe o faz quando lhe dá o alimento no momento em que ele tem fome.
É o início ao culto do feminino onde a mãe se torna a Grande Mãe e a ela tudo é feito. É ela que deve ser cultuada e venerada porque é a matriz geradora de vida. Já na fase adulta muitos seres humanos ainda se vêem idolatrando essa mãe como a fonte geradora e à ela devem obediência, além de se sentir importante para ela e somente para ela. A mãe, por outro lado, faz de seu filho aquele que a salvará dos infortúnios que a vida propõe como se esse ser tivesse a responsabilidade e obrigações para com sua vida.
Na segunda fase, que vai dos sete meses aos cinco anos, o ser humano ainda vive numa ligação estreita com a mãe. Ele vive o mágico, usa seu corpo como elemento sedutor, é prepotente e se sente como aquele que dá o poder para a mãe. Ele começa a se perceber como sujeito, porém ainda não tem conhecimento e entendimento do que pode ou não fazer por sua livre escolha. Trata-se do “puer”, ou seja a criança, o infantil.
O “puer” é aquele que tem como atitudes positivas a espontaneidade, a criatividade, o interesse ativo pelas coisas de modo geral, a curiosidade, a participação, etc. e como atitudes negativas o afeto vivido na fantasia, considera o outro como uma ameaça, a entrega ao outro é um sinal de perda da liberdade, a preguiça, atitudes inadequadas diante de uma situação, a repressão de sentimentos, inadaptação social, isolamento, narcisismo, atitudes desdenhosas em relação à vida, etc.
Na terceira fase, que vai dos seis aos doze anos, o ser humano começa a adquirir consciência. Nessa fase a criança começa a se afastar da mãe, acha que o outro lhe causa problemas, se vê considerando a mãe ora como boa e ora como terrível. É a fase onde as crianças começam a acreditar em bicho-papão, em fantasmas. Aqui começa a entrar em cena o espírito como elemento propulsor para alcançar objetivos.
Na antiguidade é o momento da aparição das bruxas, dos dragões, dos deuses gregos, divindades que refletem as características psíquicas.
Na quarta fase, que vai dos treze aos vinte anos, o ser humano obtém recursos para se emancipar afastando-se totalmente da mãe. É a fase onde o ser humano se envolve com crenças e preconceitos. É o início de um segundo nascimento onde ele faz a separação do que é confortável, aconchegante e a lei, a ordem, a disciplina.
Nessa fase é comum o êxtase, o temor e ao mesmo tempo, o divino e esplendoroso. Tem-se início a moral e o refinamento da alma através do medo, da autoridade.
Na quinta e última fase, que é a partir dos vinte e um anos, o ser humano compreende seu papel na sociedade sabendo o que tem que fazer. Começa, então a viver a maturidade com luz e conhecimento. É o momento da busca de um parceiro afetivo-sexual. É a fase da conquista e libertação do herói. Segundo Byington, “Trata-se de um ego capaz de desapegar-se do seu narcisismo, ’virar a outra face’ ou ’amar ao próximo como a si mesmo’ porque sabe a função do Outro no seu desenvolvimento, a tal ponto que pode realmente empatizar o Outro e imaginar trocar de posições com ele”. Fase da compaixão, de empatia, de amor ao próximo. É a fase em que o homem busca o amor pelo amor, a ética pela ética, a justiça pela justiça, de acordo com uma vontade interna por valores interiores que transcendem a uma censura imposta do exterior.
É nessa fase que os símbolos de totalidade estão presentes, como a Eternidade, o Infinito, o Cosmos e a Existência.
O que se espera é que o desenvolvimento da consciência siga estas cinco fases dentro de um período estabelecido que vai da vida intra-uterina até por volta dos vinte e um anos, tendo então a fase da maturidade e consciência de si e do todo.
O que acontece é bem diferente do que se espera, em muitos casos, ou podemos dizer muitos dos seres humanos somente se dão conta de que há necessidade de um desenvolvimento psíquico quando chegam à meia idade, uma vez que são pressionados pela insatisfação de desejos não atendidos. Desejos esses que se situam entre a satisfação de uma necessidade e a demanda de amor. Essa insatisfação leva, na maioria dos casos, o ser humano a buscar meios de auto-conhecimento para chegar à fase da plenitude e satisfação plena.
Elizabeth Sartori
Baseado nos textos de:
Erich Neumann em História da Origem da Consciência
Carl Gustav Jung em O Desenvolvimento da Personalidade
Paolo Francesco Pieri em Dicionário Junguiano
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
AOS MESTRES COM CARINHO
Foi no ano de 2002 que tudo começou. Cheguei em casa bastante deprimida, fui para o meu quarto, pois queria ficar só, mas ao mesmo tempo buscava um caminho. Pensei em várias possibilidades e nada me agradava, foi quando eu liguei o rádio e sintonizei na Rádio Mundial que não conhecia. Lá, um homem chamado Mauricio de Freitas falava, o que me chamou a atenção. Gostei do que eu escutava. Foi quando este homem falou sobre um curso que ele iria ministrar chamado Intuição.
Quando estava lá, hesitei, mas gentilmente a secretária pediu-me que participasse de pelo menos dois encontros. A cada encontro, Maurício, com seu carisma e sua vontade de transmitir seu conhecimento, foi fazendo com que eu me apaixonasse por tudo que eu recebia. Bem, participei de todos os encontros e de mais outros cursos.
Em 2003, uma pessoa que conheci entre os participantes me indicou um curso de Hipnose que seria ministrado pelo Renato Liberman. Renato, outro homem carismático e bem intencionado me colocou em contato com a hipnose e depois com a cabala judaica.
No último dia do curso algo me chamou a atenção quando eu vi no mural do Instituto um anúncio do Curso de Formação de Psicanalistas e, então, pensei um pouco, e lá fui eu ver do que se tratava, pois eu nem imaginava e nunca havia ouvido falar dessa profissão. Deparei-me então com outra pessoa sem igual, Fátima Mora por quem eu tenho imenso carinho.
No mesmo ano, comecei a cursar a Psicanálise e concomitantemente entrei para me especializar na Teoria de Carl Gustav Jung, com Marcos de Santis. Hoje sou Psicanalista e Analista Junguiana atendendo individualmente e ministrando aulas dessa Teoria.
Recentemente me vi com problemas de saúde e como sei que a Sincronicidade se faz presente quando precisamos entender algo, fui levada ao encontro da Alquimia, cujo tema estudara há uns dois anos atrás. Relendo o livro “Estudos Alquímicos” pude perceber muitos aspectos que antes não me haviam chamado a atenção. Ao ler o tema “lapis philosophorum” voltei-me ao ano de 2002 e lembrei-me de uma música de autoria do Maurício de Freitas onde continha o termo lapis lazulli. Não pude me conter, queria ouvir novamente esta música o que infelizmente não pude, uma vez que o cd que eu tinha com suas canções havia sido levado num assalto. Procurei-a na internet, mas encontrei a pedra e fiquei encantada por ela. Talvez um símbolo que quer ser interpretado?
Talvez esse símbolo queira me dizer que o melhor de todo esse caminho é que ao trilhá-lo ele já é a indicação para a missão e para que isso fosse tomando um rumo, colocou nele os Mestres. É certo que não foi fácil! O autoconhecimento e os ensinamentos que pude ter desses Mestres: Maurício, Renato, Fátima e Marcos, que destaco aqui, foram e continuam sendo para mim de grande importância e valia,
“CARISMA, CONHECIMENTO, DISPONIBILIDADE, VONTADE, AMOROSIDADE, PACIÊNCIA”.
Agradeço do fundo de meu coração a oportunidade que a Vida me proporcionou. O que será no futuro??? Só quando chegar lá é que saberei...
sábado, 11 de setembro de 2010
CARTILHA PSICOLÓGICA
Os temas abaixo fazem parte da Cartilha da Psicologia de C.G.Jung elaborada por mim e que você pode encontrar no site http://cidadesaopaulo.olx.com.br/cartilha-da-psicologia-de-carl-gustav-jung-iid-120400892 ou solicitar-me por e-mail. O investimento é de R$ 35,00 e você receberá em arquivo PDF.
Estrutura psíquica, Como a alma pode se libertar, Aparelho psíquico, Ciclo das transformações, Consciência e Ego, Persona, Projeções, Sombra, Self, Si-mesmo, Inconsciente pessoal, Complexos, Inconsciente coletivo, Arquétipos, Anima e Animus, Tipos Psicológicos, Símbolo, Sonhos, Mitos, Contos de fadas, Espaço-Tempo-Sincronicidade, Individuação.
Um dos temas que mais chama a atenção é o do relacionamento e porque ele acontece.
Nós temos um Eu Interior desconhecido que projeta no exterior o seu mundo. Eis dois exemplos do que pode acontecer.
Estrutura psíquica, Como a alma pode se libertar, Aparelho psíquico, Ciclo das transformações, Consciência e Ego, Persona, Projeções, Sombra, Self, Si-mesmo, Inconsciente pessoal, Complexos, Inconsciente coletivo, Arquétipos, Anima e Animus, Tipos Psicológicos, Símbolo, Sonhos, Mitos, Contos de fadas, Espaço-Tempo-Sincronicidade, Individuação.
Um dos temas que mais chama a atenção é o do relacionamento e porque ele acontece.
Nós temos um Eu Interior desconhecido que projeta no exterior o seu mundo. Eis dois exemplos do que pode acontecer.
sábado, 4 de setembro de 2010
UM CASO DE ENCATAMENTO E SEU DESFECHO
É muito interessante olhar a Vida como ela acontece e os por quês das situações. Vou contar um caso que vejo acontecer com muitas pessoas. Usarei nomes fictícios em respeito aos envolvidos. Ei-lo:
Certa vez, uma jovem chamada Vitória, num momento em que seu instinto sexual estava aflorado atraiu, sem entender, um jovem chamado Hermínio. Para ela era como um pássaro que cortara os céus e havia pousado nas terras de seu desejo. Um pouco reticente, ela foi ao encontro dele e foi encantada como num feitiço. Os dois, enfeitiçados, cada um com seus sonhos e propósitos, mesmo que inconscientes, se aproximaram e passaram a se relacionar. Cada dia que se passava era para Vitória um novo encantamento, Hermínio ia se revelando. Os dois se encontraram até que as exigências de Vitória começaram a não serem atendidas. Vitória havia entendido que uma relação não se faz só de desejos sexuais e sim de cumplicidade, de amizade. Hermínio, por sua vez, inconscientemente foi percebendo a mudança em Vitória e se deparou com questões de insatisfação e falta de vontade encontrando justificativas das mais diversas para suas faltas.
Passado algum tempo, Vitória incomodada com a situação, rompeu o relacionamento já que Hermínio não propunha mais o encantamento, inspiração e evolução.
Esta é a história de uma mulher e como ela reconheceu os desejos de sua alma.
Bem, não acaba por aqui. Uma semana depois do rompimento ele declara que está namorando. Vitória ao saber disso sentiu um “frio no estômago” e se perguntou:
O que significa isso?
Entendeu o que popularmente conhecemos como “ego ferido” e então, pode seguir seu caminho desejando à Hermínio um bom caminho e à ela um novo e próspero, em busca do companheiro cúmplice, amigo.
Nossa alma usa de formas, muitas vezes indiretas, para que possamos compreender qual a nossa missão. Existem pessoas que vão repetir e repetir situações sem entender os por quês e sofrem, sofrem muito, imputam responsabilidades nas outras pessoas e se isentam da sua responsabilidade diante das situações.
No caso de Vitória e Hermínio, ambos estavam insatisfeitos e sem vontade, cabe saber se Hermínio assimilou sua proposta de alma, ou melhor, se assimilou o caminho. Quanto a Vitória, parece que sim, pelo menos ela acredita que subiu mais um degrau rumo à sabedoria já que percebeu a influência do Ego cuja atuação era sobrepor a Alma.
domingo, 9 de maio de 2010
O HERÓI DENTRO DE NÓS
ONDE VOCÊ ESTÁ ????
A saga de Hércules, que foi imortalizado ao realizar com sucesso 12 árduas tarefas, é uma das passagens mais conhecidas da mitologia da antiga Grécia. O herói enfrentou a ira dos deuses e lutou contra seres horríveis para transcender sua condição de simples mortal. "Hércules não aceitava a imperfeição de sua condição humana e saiu em busca de algo maior, transcendental, assim como muitos de nós fazemos hoje. À primeira vista, o mito parece apenas um relato fantástico, mas por meio dele podemos descobrir formas de superar desafios", acredita o professor Efraim Rojas Boccalandro, coordenador do curso de mitologia grega da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
"O mito de Hércules ensina que nós também podemos vencer nossos defeitos e nos tornar pessoas melhores, mais éticas e dignas. Esse caminho exige esforço, persistência e coragem, principalmente para encarar monstros internos, como a agressividade, o egoísmo e a falta de respeito ao próximo", interpreta Viktor Salis, grego radicado em São Paulo, especialista em mitologia grega e autor do livro Os Doze Trabalhos de Hércules para o Caminho do Herói em Busca da Eternidade (edição do autor).
Superar obstáculos
O herói era filho de Zeus, deus supremo, e de uma mortal. Por isso, tornou-se alvo do ódio e das armadilhas da ciumenta Hera, esposa de Zeus, que não poupou esforços para destruir Hércules. Foi por causa dos estratagemas de Hera que o herói se viu obrigado a realizar os 12 trabalhos. E, embora tenha alcançado grandes vitórias, Hércules amargou também várias derrotas. "O que o distingue é sua maneira de encarar os desafios. Em vez de imobilizá-lo, os obstáculos funcionavam como alavanca, levando-o a se superar. É outra lição que podemos aprender", afirma a paulista Ana Figueiredo, colaboradora da Fundação Joseph Campbell, instituição americana dedicada ao estudo dos mitos.
Apesar de Hércules ser retratado como um homem extremamente musculoso, muitas de suas vitórias foram fruto não de sua força, mas do uso da inteligência e da sabedoria.
Doze tarefas
Os desafios enfrentados por Hércules são metáforas das diversas fases do processo de desenvolvimento interior. Eles estão relacionados aos 12 deuses do Olimpo, o panteão divino dos gregos, e com os 12 signos do zodíaco, que representam forças cósmicas. Para o especialista em mitologia Viktor Salis, os trabalhos podem ser divididos em quatro etapas.
Os três primeiros tratam da violência, dos vícios e da criação de limites. O quarto, o quinto e o sexto estão relacionados com a descoberta dos talentos, com ritos de purificação física e mental e com a transformação do instinto em intuição. O sétimo, o oitavo e o nono trabalhos, por sua vez, falam da sexualidade e da arte de amar. Enquanto o décimo, o décimo primeiro e o décimo segundo são dedicados à criação, ao desapego e à conquista da espiritualidade.
Conheça a seguir as façanhas do herói:
1 O leão de Neméia: o aperfeiçoamento começa dentro de nós
O desafio de Hércules foi vencer um leão de pele invulnerável, que devastava rebanhos e devorava todos os que tentavam matá-lo. Aconselhado por Atena, deusa da sabedoria, a não usar a força, o herói estrangula a fera em sua caverna. "Nesse teste, Hércules ensina que a luta pelo aperfeiçoamento começa dentro de nós. Os leões de hoje são a violência e a agressividade e o desafio é buscar a harmonia, procurando antes de mais nada nossos recursos internos", explica o mitólogo Viktor Salis.
2 A hidra de Lerna: combate aos vícios
Hércules teve de destruir um monstro de nove cabeças que soltavam fogo: oito renasciam quando cortadas e a nona era imortal. O herói decepou as oito cabeças enquanto um amigo as cauterizava com fogo. A nona foi enterrada, mas vigiada eternamente por Hércules. "As cabeças simbolizam os vícios. Lutamos contra eles, mas, como são imortais, se não estivermos atentos, renascem. Além dos vícios físicos, como drogas e álcool, temos de combater os vícios éticos, como a ganância", acredita Salis.
3 O javali de Erimanto: vencer o egoísmo
Foram necessários dois anos para Hércules capturar um javali feroz que devastava tudo por onde passava. Esse trabalho está relacionado ao aprendizado da vida em sociedade, segundo Salis. "O javali é um monstro sem fronteiras, que não respeita limites. Cada um de nós tem dentro de si essa fera, que é preciso dominar, aprendendo a reconhecer nosso espaço e o das outras pessoas. É um teste para vencer o egoísmo e a tendência a achar que o mundo gira em torno do próprio umbigo", interpreta o especialista.
4 A corça cerinita: cultivar a delicadeza
A missão de Hércules era capturar viva uma corça extremamente veloz, com chifres de ouro e cascos de bronze, que pertencia a Ártemis, deusa da caça. Orientado por Atena, o herói dominou o animal sagrado segurando-o pelos chifres. "Os chifres representam a iluminação, e os cascos de bronze, o mundo material. O aprendizado nesse trabalho é substituir os impulsos por qualidades mais nobres, como sabedoria, delicadeza e paciência", explica Efraim Rojas Boccalandro.
5 Os estábulos de Áugias: purificação do sentimentos
Hércules se ofereceu para limpar em um só dia os currais imundos de um rei que possuía um rebanho numeroso. Desviando dois rios para os estábulos, Hércules cumpriu a promessa, que parecia impossível. Segundo Viktor Salis, nossa sujeira acumulada é composta por raiva, angústia e emoções negativas. "Para fazer uma limpeza interior, devemos observar diariamente e com honestidade a qualidade de nossas reações e emoções", recomenda.
6 Os pássaros do lago Estínfalo: recuperar a lucidez
Para derrotar aves antropófagas que tinham penas de bronze e as lançavam como flechas, Hércules atordoou-as com o som ensurdecedor de um címbalo. "O teste de Hércules é igual ao de qualquer um de nós: conseguir reconhecer e usar a intuição. Os pássaros simbolizam a falta de lucidez e o som é nossa voz interior. O trabalho em excesso, a pressa e o estresse são pássaros que nos atordoam. O antídoto para essa situação é nos aquietarmos para ouvir o que verdadeiramente queremos fazer", acredita Viktor Salis.
7 O touro de Creta: governar os instintos
Nesse trabalho, Hércules domou o furioso touro de Creta, ao qual eram oferecidos jovens em sacrifício. Essa tarefa chama a atenção para o controle dos instintos, especialmente da sexualidade. "Hércules precisava manter o animal vivo: tinha que domar e governar seu instinto, mas não matá-lo. Em um mundo com tantos apelos eróticos e sensuais, esse é um desafio para todos, em especial para os jovens", diz Salis.
8 As éguas de Diomedes: a arte de amar
Hércules teve de enfrentar quatro éguas que se alimentavam de náufragos estrangeiros. Como no trabalho anterior, esse é mais um passo para o herói se aperfeiçoar na arte de amar. "Essa é uma iniciação: aprender a entregar o coração com sinceridade, não se deixar levar pela tentação, movido apenas pela atração física", afirma Viktor Salis.
9 O cinturão de Hipólita: a coragem de ser autêntico
A missão do herói era conseguir o cinturão da rainha das amazonas, mulheres conhecidas por sua bravura. Mas não poderia obtê-lo pela força: precisaria ganhá-lo conquistando o coração da guerreira. "Esse trabalho fala sobre a importância de construirmos laços afetivos duradouros", diz Viktor Salis. "Ensina que a arte de conquistar uma pessoa não se faz pela força nem criando ilusões e falsas aparências, mas pelo respeito ao outro e pela coragem de mostrar quem verdadeiramente somos."
1O Os bois de Gerião: a lição do desapego
Hércules empreendeu uma grande viagem para derrotar o rei Gerião e se apoderar de seus bois. Enfrentou também o gigante Anteu, invencível porque, cada vez que tocava a terra, recobrava as forças. Para derrotá-lo, ergueu-o no ar. "Essa é uma lição de desapego, sobre derrotar a cobiça e o materialismo. Gerião e os bois simbolizam as posses. A verdadeira riqueza, que é eterna, está dentro de nós. São nossos sentimentos e valores", explica Salis.
11 Os pomos de ouro do jardim das Hespérides: descoberta de talentos
O herói teve que superar vários percalços para obter os frutos de ouro de uma árvore maravilhosa, que representam a força fecunda e criadora dos homens, protegidos por um dragão imortal. "Assim como Hércules teve que ir aos extremos do mundo para descobrir esses frutos, nós também precisamos fazer uma viagem a nosso mundo interior para descobrir nossos talentos e potenciais, que são os pomos de ouro", diz Salis.
12 A captura de Cérbero: valorizar as qualidades da alma
O desafio era descer ao inferno para vencer Cérbero, cão de três cabeças que guardava o Mundo Inferior. O herói agarrou o animal pelo pescoço e não o soltou até que concordasse em acompanhá-lo. "Esse trabalho fala da imortalidade. Ensina que o corpo pode perder o viço, mas a alma deve irradiar cada vez mais a beleza construída ao longo dos anos. É um ensinamento importante para estes tempos, em que o envelhecimento e as transformações do corpo não são aceitas com naturalidade", conclui Salis.
Texto: Fanny Zygband: Greg
A saga de Hércules, que foi imortalizado ao realizar com sucesso 12 árduas tarefas, é uma das passagens mais conhecidas da mitologia da antiga Grécia. O herói enfrentou a ira dos deuses e lutou contra seres horríveis para transcender sua condição de simples mortal. "Hércules não aceitava a imperfeição de sua condição humana e saiu em busca de algo maior, transcendental, assim como muitos de nós fazemos hoje. À primeira vista, o mito parece apenas um relato fantástico, mas por meio dele podemos descobrir formas de superar desafios", acredita o professor Efraim Rojas Boccalandro, coordenador do curso de mitologia grega da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
"O mito de Hércules ensina que nós também podemos vencer nossos defeitos e nos tornar pessoas melhores, mais éticas e dignas. Esse caminho exige esforço, persistência e coragem, principalmente para encarar monstros internos, como a agressividade, o egoísmo e a falta de respeito ao próximo", interpreta Viktor Salis, grego radicado em São Paulo, especialista em mitologia grega e autor do livro Os Doze Trabalhos de Hércules para o Caminho do Herói em Busca da Eternidade (edição do autor).
Superar obstáculos
O herói era filho de Zeus, deus supremo, e de uma mortal. Por isso, tornou-se alvo do ódio e das armadilhas da ciumenta Hera, esposa de Zeus, que não poupou esforços para destruir Hércules. Foi por causa dos estratagemas de Hera que o herói se viu obrigado a realizar os 12 trabalhos. E, embora tenha alcançado grandes vitórias, Hércules amargou também várias derrotas. "O que o distingue é sua maneira de encarar os desafios. Em vez de imobilizá-lo, os obstáculos funcionavam como alavanca, levando-o a se superar. É outra lição que podemos aprender", afirma a paulista Ana Figueiredo, colaboradora da Fundação Joseph Campbell, instituição americana dedicada ao estudo dos mitos.
Apesar de Hércules ser retratado como um homem extremamente musculoso, muitas de suas vitórias foram fruto não de sua força, mas do uso da inteligência e da sabedoria.
Doze tarefas
Os desafios enfrentados por Hércules são metáforas das diversas fases do processo de desenvolvimento interior. Eles estão relacionados aos 12 deuses do Olimpo, o panteão divino dos gregos, e com os 12 signos do zodíaco, que representam forças cósmicas. Para o especialista em mitologia Viktor Salis, os trabalhos podem ser divididos em quatro etapas.
Os três primeiros tratam da violência, dos vícios e da criação de limites. O quarto, o quinto e o sexto estão relacionados com a descoberta dos talentos, com ritos de purificação física e mental e com a transformação do instinto em intuição. O sétimo, o oitavo e o nono trabalhos, por sua vez, falam da sexualidade e da arte de amar. Enquanto o décimo, o décimo primeiro e o décimo segundo são dedicados à criação, ao desapego e à conquista da espiritualidade.
Conheça a seguir as façanhas do herói:
1 O leão de Neméia: o aperfeiçoamento começa dentro de nós
O desafio de Hércules foi vencer um leão de pele invulnerável, que devastava rebanhos e devorava todos os que tentavam matá-lo. Aconselhado por Atena, deusa da sabedoria, a não usar a força, o herói estrangula a fera em sua caverna. "Nesse teste, Hércules ensina que a luta pelo aperfeiçoamento começa dentro de nós. Os leões de hoje são a violência e a agressividade e o desafio é buscar a harmonia, procurando antes de mais nada nossos recursos internos", explica o mitólogo Viktor Salis.
2 A hidra de Lerna: combate aos vícios
Hércules teve de destruir um monstro de nove cabeças que soltavam fogo: oito renasciam quando cortadas e a nona era imortal. O herói decepou as oito cabeças enquanto um amigo as cauterizava com fogo. A nona foi enterrada, mas vigiada eternamente por Hércules. "As cabeças simbolizam os vícios. Lutamos contra eles, mas, como são imortais, se não estivermos atentos, renascem. Além dos vícios físicos, como drogas e álcool, temos de combater os vícios éticos, como a ganância", acredita Salis.
3 O javali de Erimanto: vencer o egoísmo
Foram necessários dois anos para Hércules capturar um javali feroz que devastava tudo por onde passava. Esse trabalho está relacionado ao aprendizado da vida em sociedade, segundo Salis. "O javali é um monstro sem fronteiras, que não respeita limites. Cada um de nós tem dentro de si essa fera, que é preciso dominar, aprendendo a reconhecer nosso espaço e o das outras pessoas. É um teste para vencer o egoísmo e a tendência a achar que o mundo gira em torno do próprio umbigo", interpreta o especialista.
4 A corça cerinita: cultivar a delicadeza
A missão de Hércules era capturar viva uma corça extremamente veloz, com chifres de ouro e cascos de bronze, que pertencia a Ártemis, deusa da caça. Orientado por Atena, o herói dominou o animal sagrado segurando-o pelos chifres. "Os chifres representam a iluminação, e os cascos de bronze, o mundo material. O aprendizado nesse trabalho é substituir os impulsos por qualidades mais nobres, como sabedoria, delicadeza e paciência", explica Efraim Rojas Boccalandro.
5 Os estábulos de Áugias: purificação do sentimentos
Hércules se ofereceu para limpar em um só dia os currais imundos de um rei que possuía um rebanho numeroso. Desviando dois rios para os estábulos, Hércules cumpriu a promessa, que parecia impossível. Segundo Viktor Salis, nossa sujeira acumulada é composta por raiva, angústia e emoções negativas. "Para fazer uma limpeza interior, devemos observar diariamente e com honestidade a qualidade de nossas reações e emoções", recomenda.
6 Os pássaros do lago Estínfalo: recuperar a lucidez
Para derrotar aves antropófagas que tinham penas de bronze e as lançavam como flechas, Hércules atordoou-as com o som ensurdecedor de um címbalo. "O teste de Hércules é igual ao de qualquer um de nós: conseguir reconhecer e usar a intuição. Os pássaros simbolizam a falta de lucidez e o som é nossa voz interior. O trabalho em excesso, a pressa e o estresse são pássaros que nos atordoam. O antídoto para essa situação é nos aquietarmos para ouvir o que verdadeiramente queremos fazer", acredita Viktor Salis.
7 O touro de Creta: governar os instintos
Nesse trabalho, Hércules domou o furioso touro de Creta, ao qual eram oferecidos jovens em sacrifício. Essa tarefa chama a atenção para o controle dos instintos, especialmente da sexualidade. "Hércules precisava manter o animal vivo: tinha que domar e governar seu instinto, mas não matá-lo. Em um mundo com tantos apelos eróticos e sensuais, esse é um desafio para todos, em especial para os jovens", diz Salis.
8 As éguas de Diomedes: a arte de amar
Hércules teve de enfrentar quatro éguas que se alimentavam de náufragos estrangeiros. Como no trabalho anterior, esse é mais um passo para o herói se aperfeiçoar na arte de amar. "Essa é uma iniciação: aprender a entregar o coração com sinceridade, não se deixar levar pela tentação, movido apenas pela atração física", afirma Viktor Salis.
9 O cinturão de Hipólita: a coragem de ser autêntico
A missão do herói era conseguir o cinturão da rainha das amazonas, mulheres conhecidas por sua bravura. Mas não poderia obtê-lo pela força: precisaria ganhá-lo conquistando o coração da guerreira. "Esse trabalho fala sobre a importância de construirmos laços afetivos duradouros", diz Viktor Salis. "Ensina que a arte de conquistar uma pessoa não se faz pela força nem criando ilusões e falsas aparências, mas pelo respeito ao outro e pela coragem de mostrar quem verdadeiramente somos."
1O Os bois de Gerião: a lição do desapego
Hércules empreendeu uma grande viagem para derrotar o rei Gerião e se apoderar de seus bois. Enfrentou também o gigante Anteu, invencível porque, cada vez que tocava a terra, recobrava as forças. Para derrotá-lo, ergueu-o no ar. "Essa é uma lição de desapego, sobre derrotar a cobiça e o materialismo. Gerião e os bois simbolizam as posses. A verdadeira riqueza, que é eterna, está dentro de nós. São nossos sentimentos e valores", explica Salis.
11 Os pomos de ouro do jardim das Hespérides: descoberta de talentos
O herói teve que superar vários percalços para obter os frutos de ouro de uma árvore maravilhosa, que representam a força fecunda e criadora dos homens, protegidos por um dragão imortal. "Assim como Hércules teve que ir aos extremos do mundo para descobrir esses frutos, nós também precisamos fazer uma viagem a nosso mundo interior para descobrir nossos talentos e potenciais, que são os pomos de ouro", diz Salis.
12 A captura de Cérbero: valorizar as qualidades da alma
O desafio era descer ao inferno para vencer Cérbero, cão de três cabeças que guardava o Mundo Inferior. O herói agarrou o animal pelo pescoço e não o soltou até que concordasse em acompanhá-lo. "Esse trabalho fala da imortalidade. Ensina que o corpo pode perder o viço, mas a alma deve irradiar cada vez mais a beleza construída ao longo dos anos. É um ensinamento importante para estes tempos, em que o envelhecimento e as transformações do corpo não são aceitas com naturalidade", conclui Salis.
Texto: Fanny Zygband: Greg
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