sexta-feira, 13 de novembro de 2009

PASSADO-> PRESENTE <-FUTURO

Em entrevista, concedida à Revista Continuum Itaú Cultural por telefone pelo psiquiatra, psicanalista e professor universitário, o francês Serge Tisseron, traz um pouco da visão do pensador sobre o tema: “A fotografia é uma forma de realidade mista, ou poderíamos chamar de realidade hibrida. Ela está ao mesmo tempo ao lado da realidade objetiva e da subjetiva do criador ou do espectador”.

- Qual a importância da memória, já que ela muitas vezes não corresponde fielmente aos fatos?
- O objetivo da memória é nos ajudar a viver o presente, não nos projetar ao passado. Porque, se nos projetássemos ao passado, não poderíamos mais enfrentar o hoje. Ela não tem a função de nos fazer lembrar, mas, sim, de nos fazer esquecer tudo o que não é útil ao momento atual. Se por acaso não me recordo de algo, eu o fabrico e penso que estou lembrando. Eventualmente, a memória ajuda a reconstruir lembranças que não existiram, de maniera que se possa viver bem a atualidade.

- Até que ponto a ficção é necessária ao entendimento da realidade?
- A ficção opera de forma contrária à da memória. Ela nos faz antecipar o futuro, para também podermos enfrentar o presente. A principal dificuldade do ser humano é conseguir encarar seu presente constantemente. Porque ele é angustiante, complicado, nos faltam referenciais... Então, ocasionalmente, inventamos referenciais por meio de falsas lembranças e projeções no futuro. O papel da ficção é nos fazer antecipar o que está por vir, mas de maneira que se permita enfrentar o agora. Vê-se isso na adolescência, uma vez que os jovens adoram ficção científica, filmes da série Guerra nas Estrelas, videogames. É sua maneira de compreender o presente como um devir. A ficção é a projeção de um futuro sonhado, temido. É preciso compreendê-la não como um mundo paralelo, mas como um mundo que provavelmente antecipa o que virá.

Tisseron aborda estes temas com um pensamento redutivista o que ele mesmo afirma em sua entrevista quando diz não acreditar no inconsciente e sim num mistério. Ele me parece deixar por conta de algo que não possa ser entendido. No que entendo a respeito desses temas é que tanto ir para o passado quanto para o futuro, as fantasias correm soltas como lembranças de desejos não atendidos e esperanças por realizações de novos desejos. É mais prazeroso fantasiar (produto do inconsciente), não exige do inidvíduo nenhuma manifestação objetiva. Já o presente que se traduz em realidade, aquilo que chamamos de “aqui agora” nos cansa, causa-nos fadiga porque por mais concreto que possa parecer é preciso uma disponibilidade para não deixar que as tais fantasias tomem conta para poder proporcionar saídas mais objetivas frente às situações e então realizar algo de fato.

Indagada por um indivíduo sobre a dificuldade de encontrar um objetivo genuíno cheguei a concluir que esse indivíduo, assim como a maioria, tem objetivos equivocados que por conta de suas fantasias entram num labirinto e não conseguem sair até que algo se ilumine e ele se decida a encarar o presente.

3 comentários:

  1. Viver não é fácil. Somos todos alunos na faculdade da vida. Portanto, creio que reside nesta condição a verdadeira graça da experiência. É claro que a 'fantasia' faz parte essencial na compreensão desta experiência. Não se pode negar o fato de que o sonho traz intrínseco o prazer de uma realidade que reinventamos como fuga da realidade dura, fria e distante de nossos anseios. É através dessa possibilidade que apreendemos mais conscientemente os aspectos que abominados na realidade comum: O sonho é uma válvula de escape, a meu ver, estritamente necessária à aceitação dessa dita realidade fria e calculista, onde não passamos de uma peça cuja importância está limitada pela nossa utilidade na manutenção de um sistema do qual fazemos parte quase que de forma obrigatória. Nascemos nele e não temos como fugir; não nos resta outra opção a não ser aceitar o jogo e suas regras. A nossa capacidade de fantasiar substitue essa dura realidade por uma configuração mais de acordo com nosso espírito e necessidade. Em nossos sonhos somos o centro das atenções; fazemos o mundo girar ao nosso redor; além do que, nestes sonhos experimentamos o prazer que o poder de realizar proporciona - oportunidade negada à maioria de nós, não só pela dificuldade imposta pelo sistema, mas também pela não conformidade dos ideais. Como podemos negar a importância do sonhar diante destas constatações? A realidade, por mais que eu deseje, e faça por onde, não me satisfaz plenamente. Como me sentir realizado dentro da realidade, subjugado por suas regras, se nela não encontro os conteúdos que são necessários à minha realização. Talvez seja mesmo papel da psicologia adequar todo espírito às regras da realidade comum para que este indíviduo se sinta parte útil deste conjunto e, dessa forma, sinta-se feliz pela inclusão. Mas, o que fazer com os espíritos indômitos que se negam a aceitar essa realidade imposta como a única possível? Interná-lo num hospício; ignorá-lo como um louco utópico, um desajustado; transmutar sua utopia e transformá-la em produto como fizeram em episódios passados?
    Elizabeth, o que é a realidade? É um conceito aceito por todos unanimente ou um conceito que está sujeito à compreensão individual? Ou ela é apenas um palco onde atuamos como atores numa peça quando deixamos de ser nós mesmos por um momento? Creio que a realidade, como disse antes, é um consenso entre os que detêm o poder no sentido de usufruir o melhor que podem da disponibilidade dos que nada podem. Dito de forma mais explicita, a realidade comum é apenas a configuração social que interessa unicamente aos que detêm privilégio. Se esta realidade não apresenta a configuração que me interessa nada pode me dar e nada pode me exigir, de maneira que nela não posso me adequar. Talvez essa inadequação seja o fator responsável pela dificuldade em se encontrar um objetivo genuíno que me faça participar ativamente dessa sociedade. Tudo o que digo não exclui o relacionamente entre os seres humanos e renegue instituições, apenas censura a maneira como são conduzidas essas relações e instituições. A cura para o individuo insociáel talvez não seja convencê-lo a aceitar os ideais que regem nossa sociedade e sim, fazê-lo crer que as mudanças são possíveis e que um dia, talvez, a humanidade se pareça com algo que ele 'sonhe'. Estou certo de que a única lembrança minha que não se esvaeceu com o passar do tempo é exatamente a esperança de que a humanidade um dia realizará a minha utopia: a de que os seres humanos compartilharão o planeta como uma propriedade pertencente a todo ser vivo, usufruindo dele apenas o essencial para a sua própria sobrevivência, deixando para o outro a mesma quantidade. Elizabeth, acho que ao iniciar este comentário quis me ater ao seu texto, mas como sempre ocorre, deixo-me levar por meus próprios pensamentos onde querem ir. Neste caso sou simples passageiro e, a bem da verdade, não me importo nem um pouco com isso. Um lembrete: para muitos, os sonhos são a única realidade que possuem. Abçs.

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  2. Em que base está calçada a fantasia? Talvez num ideal de algo a atingir . Sim, acredito que a fantasia tem sua importância, ela nos põe em contato com o inconsciente e nos faz desejar algo, mas será que fica só no desejo? É de se refletir sobre a ultilidade dos seres, creio que é aí que se instaura as nossas angústias, uma vez que buscamos sermos úteis de alguma forma para o Outro, para o Mundo. Desde crianças necessitamos do olhar que confirma a nossa existência. Esse sonho sobre o qual se refere proporciona um mundo onde não há lugar para o Outro e é o Outro que nos ajuda a refletir. Através dele nos conhecemos em virtude de nossas projeções boas e más. Se atentarmos para essas projeções veremos o quanto poderemos adquirir consciência de nós mesmos. No nosso mais íntimo está aquilo que nos faria sentir realizados. Os sonhos, se ficarem somente como fuga da realidade não nos proporcionarão a descoberta dessa essência, mas para isso entendo que é preciso identificar esse estado, questionar, experenciar, tentar até encontrar o caminho que leva a realização. Os espíritos indômitos são os nossos melhores amigos, eles nos colocam à prova para que possamos refletir sobre nós mesmos. Esses espíritos estão contidos em nós e portanto fazem parte da nossa estrutura psíquica, eles são os responsáveis pelas nossas desventuras e fracassos. Que tal recepcioná-los e negociar com eles?
    Gilberto: O que é realidade? Boa pergunta..rs Bem, no meu entender a realidade é subjetiva inerente a cada indivíduo. Cada um de nós pode ser útil de alguma forma para a sociedade em que vivemos. A humanidade vem se transformando ao longo dos séculos e para isso teve contribuições de muitas pessoas conhecidas e outras não. Você já pensou ou já passou por uma situação onde uma pessoa bem simples e que não teve as mesmas oportunidades que nós tivemos, falou uma frase, uma palavra ou fêz um movimento e tudo fêz sentido para uma questão qualquer de nossa vida? Pois é, querer mudar a humanidade a partir de um único indivíduo poderia ser considerado um exagero. Também quando essa pessoa simples e que não teve as mesmas oportunidades nos dá uma luz, aprendemos, mudamos e transmitimos para àquele que está mais próximo ou para um outro que cruze o nosso caminho. Maravilhoso isso não? E assim devagarinho, como um pingo de chuva no lago, as ondulações vão se formando. SONHAR É BOM, MAS “ARREGAÇAR AS MANGAS” E IR ATRÁS DESSE SONHO É MELHOR AINDA.

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  3. Eu me reconheço como indivíduo participante de uma sociedade. Quando nasci ela já se encontrava aí. Desde então sofreu algumas mudanças, embora não as que considero ideais, porém significativas.
    Sou apenas um homem e pouco ou nada posso fazer para conduzir às mudanças que considero ideais a não ser através da tribuna, isto é, através da Arte. Se compartilhasse esse ideal com um número maior de pessoas esse sonho adquiriria um forte teor de possibilidade, pois, como dizia o poeta: "sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade", portanto, como o meu sonho é só meu ele não é passível de se realizar. Me refiro, é claro, ao meu sonho de uma sociedade ideal, embora eu mesmo admite o seu caráter utópico. Entretanto, meu sonho particular está sendo realizado aos poucos e estas palavras, escritas neste momento, são parte dessa realização. Eu arregaço as mangas e realizo meu sonho até onde ele só depende de mim. Inevitávelmente, em seu trajeto rumo a realização plena, o sonho encontra barreiras impostas por ideais alheios. Com perspicácia e paciência atento contra essas barreiras, mas elas são espessas e dado o tempo e a incerteza da vida, creio que minha luta será contra uma parede de concreto que pouco cede às minhas investidas.

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