terça-feira, 8 de maio de 2012

EU E O CARTEIRO - VALORES, RESPEITO, ALTERIDADE...


Vinha eu pela marginal pensando e apreciando o fato de dirigir e num determinado ponto houve um congestionamento. Percebi que não chegaria ao meu destino no horário previsto, mas fazer o que? O jeito era relaxar e esperar o trânsito fluir, mas mesmo assim eu não gostei muito de andar em primeira e segunda. Bem, comecei então a refletir, cercada de várias informações recebidas e vivências internas, sobre os filhos que somos.

Por definição a mulher contem no seu interior um masculino (Animus) apreendido da relação com a figura paterna, assim com o homem contem no seu interior um feminino (Anima) apreendido da relação com a figura materna.

Segundo Alberto Pereira Lima Filho no livro O pai e a psique: O pai é mediador de uma relação; determinada em que bases, até que ponto, dentro de que abrangência ou limites, com que regras, com que qualidade de inserção ou afastamento, com que métodos, regularidades, finalidades, responsabilidades e objetivos as diversas relações do filho com o mundo, com o outro e consigo mesmo irão se estabelecer. O pai discrimina o mundo em categorias, tornando-o compreensível e, portanto utilizável; interrompe o que até então era natural” para instaurar o deliberado, o escolhido, o proposital, o eleito, o consciente. E fornece critérios para tudo isso (...).  Com seus limites humanizadores, o pai apresenta ao filho os códigos da sociedade à qual deverá pertencer, mas a confiança e o sentimento de segurança experimentados em relação ao grupo social são heranças da relação erótica com a mãe, fundamento para todo relacionamento ulterior.

Entendo que o que o autor coloca nesta frase seria o lado positivo dos arquétipos, só que não é bem assim que acontece. Se mãe e pai também enquanto filhos receberam informações sobre as quais representaram de uma maneira negativa, passaram para os seus filhos a mesma informação, talvez, de um modo diferente por que dependeram do momento cultural e social em que estavam inseridos. Estes somos nós agora!
A função do pai é interditar a mãe, no que ela representa para que o filho ou a filha se mova em direção ao mundo externo. Nesse momento a consciência é afastada do inconsciente para promover o processo de capacitação, instrumentação e diversificação de recursos. Fase que levará alguns anos até que esses filhos, por conta de uma grande crise comecem a reconhecer que existe um inconsciente que pede passagem. A famosa crise da meia idade!!!

Só que, na fase de seu reinado, de um modo geral, o pai se porta como o deus-todo-poderoso não permitindo ao filho que ele o ultrapasse e com isso o prende ao sistema patriarcal de valores proporcionando-lhe um difícil acesso à alteridade que é a etapa de desenvolvimento psíquico posterior ao patriarcado (matriarcado->patriarcado->alteridade->cósmico). Este filho não percebe que é possuidor de uma energia para sentar junto ao pai e apreciar, considerar, legislar, ir à luta e vencer. Já a filha se tornará refém por sua servidão, uma vez que a mesma é desqualificada de valor enquanto ser humano produtivo e contribuidor com a evolução e assim, estará tão envolvida no patriarcado quanto o filho. Ela fará tudo o que puder para ser uma boa filha para o pai, uma boa esposa para o marido, uma boa empregada para o patrão, uma boa devota para o padre, ... A maneira como ela se sente capacitada para isso é servindo e colocando o homem como detentor do poder, não se dando conta de que ela é a genitora da raça humana e orientadora do que é natural, como nutrição, cuidados, proteção...

Quando equilibrada a conduta mãe-pai, cada um dentro de suas funções psíquicas procederá à alteridade que é um incluir o Outro na relação ou, como disse meu analista Marcos de Santis, a alteridade é “Eu sou o Outro”.

Essa expressão “Eu sou o Outro” entrou pelos meus ouvidos e se instalou em minha alma como se dissesse o quão feliz eu posso ser ao me ver, ao me falar, ao me sentir, através do Outro.
É claro que depois de tocada na alma, a vida põe diante de nós algo para que possamos sentir de perto e reconhecer o que apreendemos.

Ao chegar bem próxima ao meu destino vi o carteiro do bairro se dirigindo para atravessar a rua por onde eu ia passar.  Compreendi naquele momento o quanto valia a sua atividade profissional e, sem ser tão necessário, pois na rua só havia um único carro em movimento, o meu, parei para lhe dar passagem, ao que com um sorriso largo ele me disse para prosseguir. Naquele momento senti o respeito mútuo entre eu e o carteiro.  Alteridade?!? 

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