domingo, 3 de maio de 2015

O CONHECIMENTO E A META (defesa, desejo, roubo, transgressão, culpa, ritual, imitação, verbalização)

A defesa está encoberta por uma meta e essa meta tem uma estruturação do desejo. O desejo se move da dialética entre carência e astúcia. É acessado pela falta de algo que parece vital e para o qual há um estímulo a mover-se.

“O desejo é o que no coração mesmo de nossa subjetividade, é o mais essencial ao sujeito. Mas ele é, ao mesmo tempo, alguma coisa que é também o contrário, que aí se opõe como uma resistência, como um paradoxo, como um núcleo rejeitado, como um núcleo refutável. É a partir daí, insisto nisso várias vezes, que uma determinada experiência ética é desenvolvida.” (Lacan, 1958)

Na Grécia os homens eram bissexuais e não podiam ser homossexuais porque o desejo tinha como meta uma passagem de informação, assim como, o que vê um homem mais velho ao se apaixonar por um mais novo?  O conhecimento do mais velho é potencializado pela pobreza do conhecimento do mais novo. É um encontro erótico, pois um quer o conhecimento e o outro se sente conhecedor. Os homens não podem ter o conhecimento dos deuses, mas pode pretendê-los. É um estado inflacionário porque quer todo o conhecimento a partir do quantum que conseguiu.

Um dos elementos que compõe a estruturação do desejo com direção à uma meta é a vergonha que é induzida pela própria interioridade, pois equivale a uma admissão de fraqueza diante do desejo.

A palavra especular vem do latim que significa espelho, de se ver no outro. Na psicanálise, esse espelho (outro) recebe a projeção de nossos sentimentos e opiniões. Exemplo: O marido é responsável em frustrar a mulher que tem vergonha dele porque a vergonha é dela e ela quer alguém que lute pelos propósitos dela.

O problema do ladrão não é ter roubado, mas como parar de roubar. A vergonha é um sinal que houve uma apropriação daquilo que tinha que se apropriar (é um stop), dispondo o ego ao limite. O roubo se dá na inflação e a humilhação segura só o que precisa ser conscientizado. Enquanto isso, no caminho entre o roubo e a humilhação, há um tempo de secamento daquilo que foi roubado que é chamado de frustração para que o ego amadureça e possa, então, sustentar melhor os sacrifícios.

A transgressão no sentido de avançar os limites estabelecidos pela vergonha gera a culpa. Essa culpa indica o rompimento do indivíduo com o sistema anterior, mas tem um sintoma de limite, é saudável do ponto de vista psíquico. Se há uma culpa exagerada ela é considerada patológica. A instalação da culpa na psique do indivíduo é a tentativa dele de se emancipar do modelo, traindo-o porque tem uma ação que escapa do coletivo, sendo que quanto mais medo o indivíduo tiver, mais perto ele estará em produzir um ato com uma culpa devastadora. Esse medo sinaliza que o ato será julgado. A culpa deriva de um ato maior do que um simples erro e menor do que um pecado.

Exemplo: Um rapaz sai de casa e se sente culpado em deixar a mãe. Esse indivíduo não sente que tem direito àquele bem por causa do estado matriarcal dele. O masculino em questão, não se desenvolveu o suficiente para produzir um confronto com o Inconsciente informando que as ações estão no estado mágico da psique.

“No momento em que somos capazes de solicitar uma dimensão individual e personalizada, somos tomados por uma perturbação que tem todas as conotações do sentimento de culpa. É como se nos sentíssemos culpados por ter conseguido o que outros não conseguiram: é aquela sensação indefinida que nos acompanha na vida quando confrontamos a nossa capacidade de realização com a experiência dos que, diversamente de nós, pararam no seu caminho.” (Aldo Carotenuto)

O indivíduo recebe dos deuses um dom, mas não pode se apoderar dele porque o ego não aguenta o quantum de inflação que pode gerar e por isso, para ganhar conhecimento é preciso de fronteiras. Em crises profissionais o indivíduo se sente uma farsa que precisa da vergonha e da culpa porque está tentando se apoderar de algo. Precisa do limite. Ao falar de um projeto e deixá-lo começar a existir, a meta atrai um ritual sistemático e dinâmico.

O índio ao matar um animal, reza antes de comê-lo porque não foi ele quem o matou, mas sim os deuses que o fizeram. O índio entende que a natureza fornece o alimento, mas no ritual estamos tentando roubar algo dos deuses.

O homem antigo não fazia rituais para oferecer um bem. O bem ofertado é que produzia o ritual. A medalha de ouro já está lá, ela é o bem ofertado e cria o ritual que contém o sacrifício no seu caminho.

O bem nomeado e escolhido já é a intenção materializada, a inclusão existe antes do ritual, a meta já está estabelecida o que é um paradoxo, de um lado o inconsciente quer se conscientizar e de outro, oferece ao indivíduo aquilo que ele precisa levando o mesmo naquela direção.

A percepção de que a meta está fazendo todo o movimento na sua direção, conduz as ações para ela. Para o homem antigo isso era um fato, por isso, ele oferecia um exemplar aos deuses por não ser vulgar, como um boi albino, um grão mais desenvolvido,...

Exemplo: Os americanos dizem que ou você é ou faz por imitação (mimesis). O indivíduo, na imitação é uma farsa, uma vez que ele não se diferenciou do coletivo impedindo a originalidade que o levaria à fé. Com a filosofia acompanha-se a sabedoria, mas não a tem. É a ideia de acompanhar os deuses sem pretender sê-los, o que leva a acalmar-se.

A meta está no olhar. O filho é para os pais uma medalha de ouro. Eles depositam no filho aquilo que eles não fizeram e sabem que ele será, que é deles, dos pais. É o “vir-a-ser” dos pais. Esse filho é algo que foi feito para servir a humanidade e é por isso que é amado. A condição de amor existe na relação entre duas pessoas e quando alguém pensa em perguntar é porque o outro quer falar.

Uma mulher que apanha do marido é porque não conseguiu tirar o marido da mãe, não tem um masculino desenvolvido e o marido está preso no sistema matriarcal. O ego se confunde com o falo e não compreende o poder fertilizador. A mulher é geradora inédita porque seu produto (a criança) é inédito. Se a criança não é vista como especulativa, cai na marginalidade e se torna vulgar, é semelhante aos outros e não tem dom.

O propósito do Banquete de Platão, o próprio banquete é um roubo dos deuses, uma vez que comemoram um feito. O debate procura a sabedoria dos deuses “roubar algo dos deuses” porque o roubo é uma sinalização da incompetência dos componentes.

O amado e amante tem o “supostosaber” e isso é o que cada um busca no outro. O amante acredita que o outro sabe o que é melhor para ele e por isso o vê como amado. Pergunta-se: Porque o outro não corresponde as expectativas e se torna um agressor? Porque o amante pretende algo do amado, mas não verbaliza a ponto de receber a resposta. O que favorece a produção do enunciado? É falar sobre, porque sem verbalização não há conscientização.

Ex.: marido vê programas eróticos e a mulher fica braba.
O que cada um quer? Isso não é verbalizado e os dois se veem frustrados na relação.

A única condição de amor está na individuação e o que se tem é uma simulação, sempre tendo algo novo.


beth.psicanalista@yahoo.com.br
Atendimentos na zonas sul e norte da cidade de São Paulo

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