A defesa está
encoberta por uma meta e essa meta tem uma estruturação do desejo. O desejo se
move da dialética entre carência e astúcia. É acessado pela falta de algo que
parece vital e para o qual há um estímulo a mover-se.
“O desejo é o que no coração mesmo de nossa subjetividade, é o
mais essencial ao sujeito. Mas ele é, ao mesmo tempo, alguma coisa que é também
o contrário, que aí se opõe como uma resistência, como um paradoxo, como um
núcleo rejeitado, como um núcleo refutável. É a partir daí, insisto nisso
várias vezes, que uma determinada experiência ética é desenvolvida.” (Lacan,
1958)
Na Grécia os
homens eram bissexuais e não podiam ser homossexuais porque o desejo tinha como
meta uma passagem de informação, assim como, o que vê um homem mais velho ao se apaixonar por um mais novo ? O conhecimento do mais velho é potencializado pela pobreza do
conhecimento do mais novo. É um encontro erótico, pois um quer o conhecimento e
o outro se sente conhecedor. Os homens não podem ter o conhecimento dos deuses,
mas pode pretendê-los. É um estado inflacionário porque quer todo o
conhecimento a partir do quantum que conseguiu.
Um dos elementos
que compõe a estruturação do desejo com direção à uma meta é a vergonha que é
induzida pela própria interioridade, pois equivale a uma admissão de fraqueza
diante do desejo.
A palavra
especular vem do latim que significa espelho, de se ver no outro. Na
psicanálise, esse espelho (outro)
recebe a projeção de nossos sentimentos e opiniões. Exemplo: O marido é
responsável em frustrar a mulher que tem vergonha dele porque a vergonha é dela
e ela quer alguém que lute pelos propósitos dela.
O problema do
ladrão não é ter roubado, mas como parar de roubar. A vergonha é um sinal que
houve uma apropriação daquilo que tinha que se apropriar (é um stop), dispondo o ego ao limite. O roubo se dá na inflação e a
humilhação segura só o que precisa ser conscientizado. Enquanto isso, no
caminho entre o roubo e a humilhação, há um tempo de secamento daquilo que foi
roubado que é chamado de frustração para que o ego amadureça e possa, então,
sustentar melhor os sacrifícios.
A transgressão no
sentido de avançar os limites estabelecidos pela vergonha gera a culpa. Essa
culpa indica o rompimento do indivíduo com o sistema anterior, mas tem um
sintoma de limite, é saudável do ponto de vista psíquico. Se há uma culpa
exagerada ela é considerada patológica. A instalação da culpa na psique do
indivíduo é a tentativa dele de se emancipar do modelo, traindo-o porque tem
uma ação que escapa do coletivo, sendo que quanto mais medo o indivíduo tiver,
mais perto ele estará em produzir um ato com uma culpa devastadora. Esse medo
sinaliza que o ato será julgado. A culpa deriva de um ato maior do que um
simples erro e menor do que um pecado.
Exemplo: Um rapaz
sai de casa e se sente culpado em deixar a mãe. Esse indivíduo não sente que
tem direito àquele bem por causa do estado matriarcal dele. O masculino em
questão, não se desenvolveu o suficiente para produzir um confronto com o
Inconsciente informando que as ações estão no estado mágico da psique.
“No momento em
que somos capazes de solicitar uma dimensão individual e personalizada, somos
tomados por uma perturbação que tem todas as conotações do sentimento de culpa.
É como se nos sentíssemos culpados por ter conseguido o que outros não
conseguiram: é aquela sensação indefinida que nos acompanha na vida quando
confrontamos a nossa capacidade de realização com a experiência dos que,
diversamente de nós, pararam no seu caminho.” (Aldo Carotenuto)
O indivíduo recebe dos deuses um dom, mas não
pode se apoderar dele porque o ego não aguenta o quantum de inflação que pode
gerar e por isso, para ganhar conhecimento é preciso de fronteiras. Em crises
profissionais o indivíduo se sente uma farsa que precisa da vergonha e da culpa
porque está tentando se apoderar de algo. Precisa do limite. Ao falar de um
projeto e deixá-lo começar a existir, a meta atrai um ritual sistemático e
dinâmico.
O índio ao matar
um animal, reza antes de comê-lo porque não foi ele quem o matou, mas sim os
deuses que o fizeram. O índio entende que a natureza fornece o alimento, mas no
ritual estamos tentando roubar algo dos deuses.
O homem antigo
não fazia rituais para oferecer um bem. O bem ofertado é que produzia o ritual.
A medalha de ouro já está lá, ela é o bem ofertado e cria o ritual que contém o
sacrifício no seu caminho.
O bem nomeado e
escolhido já é a intenção materializada, a inclusão existe antes do ritual, a
meta já está estabelecida o que é um paradoxo, de um lado o inconsciente quer
se conscientizar e de outro, oferece ao indivíduo aquilo que ele precisa
levando o mesmo naquela direção.
A percepção de que a meta está fazendo todo o
movimento na sua direção, conduz as ações para ela. Para o homem antigo isso
era um fato, por isso, ele oferecia um exemplar aos deuses por não ser vulgar,
como um boi albino, um grão mais desenvolvido,...
Exemplo: Os americanos dizem que ou você é ou faz
por imitação (mimesis). O indivíduo,
na imitação é uma farsa, uma vez que ele não se diferenciou do coletivo
impedindo a originalidade que o levaria à fé. Com a filosofia acompanha-se a
sabedoria, mas não a tem. É a ideia de acompanhar os deuses sem pretender
sê-los, o que leva a acalmar-se.
A meta está no olhar. O filho é para os pais uma
medalha de ouro. Eles depositam no filho aquilo que eles não fizeram e sabem
que ele será, que é deles, dos pais. É o “vir-a-ser”
dos pais. Esse filho é algo que foi feito para servir a humanidade e é por isso
que é amado. A condição de amor existe na relação entre duas pessoas e quando
alguém pensa em perguntar é porque o outro quer falar.
Uma mulher que apanha do marido é porque não
conseguiu tirar o marido da mãe, não tem um masculino desenvolvido e o marido
está preso no sistema matriarcal. O ego se confunde com o falo e não compreende
o poder fertilizador. A mulher é geradora inédita porque seu produto (a criança) é inédito. Se a criança não é
vista como especulativa, cai na marginalidade e se torna vulgar, é semelhante
aos outros e não tem dom.
O propósito do Banquete
de Platão, o próprio banquete é um roubo dos deuses, uma vez que comemoram um
feito. O debate procura a sabedoria dos deuses “roubar algo dos deuses” porque o roubo é uma sinalização da
incompetência dos componentes.
O amado e amante tem o “supostosaber” e isso é o que cada um busca no outro. O amante acredita
que o outro sabe o que é melhor para ele e por isso o vê como amado.
Pergunta-se: Porque o outro não corresponde as expectativas e se torna um
agressor? Porque o amante pretende algo do amado, mas não verbaliza a ponto de
receber a resposta. O que favorece a produção do enunciado? É falar sobre,
porque sem verbalização não há conscientização.
Ex.: marido vê
programas eróticos e a mulher fica braba.
O que cada um
quer? Isso não é verbalizado e os dois se veem frustrados na relação.
beth.psicanalista@yahoo.com.br
Atendimentos na zonas sul e norte da cidade de São Paulo
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