“A transferência baseia-se na ilusão de que
existem pessoas que sabem. O analista está numa posição em relação ao
analisando unicamente como aquele que é o suposto saber. A essência da
transferência é simbólica, não imaginária: o que importa não é se o analisando
sente ou não afeto pelo analista, mas sim o papel que ele atribui, o de
supostamente deter um saber. Lacan diz que desde o momento em que há sujeito
suposto saber, há transferência. A partir daí o analista, mesmo não sendo
aquele que sabe, ocupa o lugar de quem sabe na medida em que ele é o objeto da
transferência, do sujeito suposto saber... Por isso, o psicanalista está
implicado no sintoma do analisando, não de maneira fortuita, mas estrutural,
justamente como aquele que supostamente detém a chave dos enígmas do
analisando. Ele é a própria verdade do sintoma do analisando, por isso a
transferência é estrutural.” (Cláudio Pfeil)
A transferência e
contratransferência são conceitos centrais na compreensão da relação entre
analista e analisando. Freud reconheceu que a transferência é um instrumento
central de todo o tratamento analítico, pois o analisando repete na sua relação
com o analista aquilo que tinha vivido na infância com outras pessoas. Já a
contratransferência é uma reação causada no analista e, quanto mais analisado
ele for, menos sucumbirá aos efeitos contratransferenciais.
A transferência
também acontece nos relacionamentos quer sejam entre cônjuges, entre amigos,
etc. Ela surge do contato emocional de um indivíduo para com o outro com seus afetos,
sentimentos e vivências inconscientes que irão criar mutualidade. É uma projeção
típica da relação entre indivíduos. Ela, a projeção, algo que é visto no outro
é característica de quem vê. Dependendo dos laços inconscientes e emocionais
que emergem na relação, existem duas formas de projeção:
1.
Positiva = com os
sentimentos de afeto e admiração.
2.
Negativa = com os
sentimentos de agressividade e resistência.
O analista tem a
lei, ele vê o analisando de um jeito, vê a projeção e por isso o analisando faz
uma imediata transferência e se o analista corromper a lei, ele fará uma
contratransferência (identificação
emocional com o discurso do analisando). No decorrer da análise os
analisandos precisam descobrir que são incapazes de realizar algo,
principalmente por causa da pretensão.
Um ato não vai se
realizar enquanto não se ajustar a pretensão.
Ex.:
- Um pai diz que o filho é drogado.
Quem produziu uma droga de filho? Foram os fundamentos do pai.
- Quem é um peso para o pai que acha
seus filhos um peso? São suas próprias regras que o torna pesado.
Para Carl Gustav
Jung a relação é dialética onde analista e analisando, amado e amante, ... estão
igualmente envolvidos e existe uma interação nos dois sentidos entre eles.
A
transferência arquetípica pode ser acionada por projeções não baseadas na
experiência pessoal, do mundo exterior, do analisando. Por exemplo, na base da
fantasia inconsciente o analista pode ser visto como um curador mágico ou um
demônio ameaçador e essa imagem terá uma força maior que uma derivação da experiência
comum supriria. Ou, pode referir-se aos eventos geralmente esperáveis da
análise, àquilo que ela provoca no relacionamento entre analista e analisando.
O diagrama de Jung (CW 16, §422) ilustra esta relação que podemos reproduzir
para quaisquer outros relacionamentos. As setas de duas cabeças indicam uma
comunicação e um relacionamento nos dois sentidos.
1 = Aliança terapêutica.
2 = O analista tanto se vale de seu próprio inconsciente para
uma compreensão do analisando, como confronta seja o que for que o tornou um “curador
ferido”. Sua própria análise terá feito aqui seu impacto.
3 = Representa o estágio inicial do analisando da
conscientização de seus problemas, interrompido por resistência e por dedicação
à “persona”.
4 e 5 = Indicam o impacto do relacionamento analítico sobre
a vida inconsciente de cada participante, uma mistura de personalidades que
levará cada qual a algum tipo de confronto com a possibilidade da mudança
pessoal.
6 = Propõe uma
comunicação direta entre o inconsciente do analista e o do analisando.
Até a década de 1950, os
psicanalistas, seguindo Freud, tendiam a considerar a contratransferência como
invariavelmente neurótica, uma ativação dos conflitos infantis do analista e um
obstáculo para seu funcionamento (Freud, 1910; 19913). Em 1920, Jung escreveu:
“Não se pode exercer nenhuma influência se não se é suscetível à influência. .
. O paciente influencia [o analista] inconscientemente. . . Um dos mais bem
conhecidos sintomas desse tipo é a contratransferência evocada pela transferência”
(CW 16, §163).
AS FRUSTRAÇÕES
NAS RELAÇÕES TRANSFERENCIAIS SÃO DEVIDO A FARSA NA QUAL O INDIVÍDUO ESTÁ SE
SUBMETENDO.
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