Em meu sonho, havia uma situação em que um homem me dizia:
- Você está fazendo alquimia.
Ao acordar, fiz o que normalmente tenho feito sem nenhuma exceção. No caminho para a empresa, comecei a pensar em várias coisas, pensei no livro que estou lendo, nas situações que eu e meus amigos estão atravessando, no barulho do trânsito, na falta de paciência dos motoristas e então, me dei conta da ansiedade que nos acomete quanto aos nossos desejos.
Passamos a vida querendo, lutando por algum objeto (aqui o objeto como expressão de qualquer coisa como materiais, pessoas, posições, reconhecimentos, felicidade, paz, etc). Insistimos, conseguimos, não conseguimos, nos alegramos, nos desapontamos e tentamos novamente. Cada dia que passa é mais um dia de luta, de satisfações e insatisfações quanto aos resultados daquele dia. Queremos conquistar! E ter para nos sentirmos vitoriosos. É um círculo sem fim. Exauridos e dependendo da intensidade dos desejos e da idade, chegamos até pensar em morte por não agüentar carregar sobre os ombros tantas expectativas. Outros simplesmente desanimam e se lançam para outro desejo e tudo começa novamente.
Aqueles que supostamente conseguem, ficam com uma conta a pagar. A psique parece atender ao desejo dessa pessoa e lhe dá, até algo aparentemente melhor do que havia imaginado, mas em contraposto a pessoa precisará pagar de alguma forma por essa insistência. Se analisarmos situações onde isso aconteceu poderemos perceber que o pagamento começou bem antes do resultado ser alcançado, com uma concentração de libido (energia) na realização do tal desejo e desgaste dessa mesma libido em outras atividades. É por essa razão, acredito que as pessoas ficam cegas diante dos outros objetos que se põem à sua frente, como: saúde, isolamento forçado, relacionamentos, etc.
Refletindo mais um pouco sobre esse tema, pensei na aprendizagem. Se precisássemos ir de um país ao outro nos ocuparíamos da compra de bilhetes de transporte, das acomodações, das refeições, das roupas, sapatos e tantos outros detalhes que deixariam essa lista longa demais, além, é claro de toda uma pesquisa sobre cultura do povo, clima, pontos turísticos. Depois de tudo pronto, chegamos ao país e, não é que faltou alguma coisa!!! Achamos que isso foi ruim e nos prometemos que na próxima será diferente.
Levando essa metáfora para a nossa vida me dei conta que todas as peças precisam se encaixar. Percebo que “correr atrás”, se esvair em ansiedades, se lamentar por não ter conseguido, perder noites de sono, significam que nós não conseguimos aprender a lição da viagem.
Na psique tudo vai se ajustando de acordo com a meta de cada ser. O que, talvez, nos cause aflição é em saber qual a nossa meta, mas quanto a isso nada podemos fazer enquanto não entendermos seus sinais. Não há pressa, só paciência consigo e fé de que a cada tomada de consciência, na chegada ao nosso destino, nos sintamos livres e fortes para lidar com algum sentimento de frustração por termos esquecido algo lá atrás, tendo a coragem de reconhecê-lo tomando como algo a ser refletido e reintegrado à nossa psique.
Segundo o filósofo Kant, “a paciência é amarga, mas seus frutos são doces.” e para Plutarco, “a paciência tem mais poder do que a força”.
Diz-se que Deus escreve certo por linhas tortas, mas não há dúvida que nada ocorre nem se move sem seu consentimento.
Elizabeth Sartori
Psicanalista e Analista Junguiana
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