terça-feira, 2 de junho de 2015

CORRUPÇÃO, METÁFORA, COMPROMISSO

Avaliar as consequências de um ato ou outro instala a lei para coibir suas falsidades. O compromisso tem a ver com a ética, ele pressupõe que há um valor em progressão. É preciso “dar corda” às imagens para não virar fantasia.

A metáfora (condensações) e a metonímia (deslocamentos) serão para Lacan as duas leis fundamentais do inconsciente que responderão também pela fala do inconsciente, onde a estrutura metonímica de sequência de imagens que se conectam será o ponto de referência para caracterizar a estrutura do desejo.

No processo metonímico temos um deslocamento em que uma parte é tomada pelo todo, da mesma forma que no “objeto a” (a letra "a" em minúsculo qualifica uma alteridade, alguma coisa que está para além do sujeito desejante, que ele quer para si e que nunca é alcançado) alguma coisa toma o lugar, parcialmente, do desejo interditado ao sujeito. Igualmente, na metáfora alguma coisa é substituída em seu sentido por outra, o que se pode flagrar facilmente na narrativa dos sonhos, sempre metafóricos por excelência. A metáfora tem todos os significantes possíveis (parte física da palavra = grafia + som, mas que pode ter mais de um significado).  É rica em possibilidades.

“Lacan estabelece a existência do inconsciente a partir da linguagem e do lógico. Em todo fenômeno linguístico, significante e significado são dados juntamente. Para Lacan, o significante precede o significado, constituindo-se, pois, uma autonomia do significante. O significado é produzido pelo significante. É o significante que impõe ao sujeito a sua lei, e o significado do significante é constituído pelo desejo e pela castração. O sujeito deve desejar, e para isto, deve aceitar a castração. O significado depende do fato de que em primeiro lugar é o homem que se inclui no significante, e a identificação constitutiva do sujeito é a identificação com um significante. Daí a fórmula de que um significante é aquilo que representa o sujeito para outro significante. A passagem do significante para o significado é um ato de imposição, em que o significante é aquilo que se impõe, e o significado, o que é imposto.” Renato Oliva.

“Lacan (1988), em seu seminário IX, faz uma reformulação de sua teoria do significante. Ele diferencia, enfim, o significante do signo: enquanto o signo representa algo para alguém, um significante representa um sujeito para outro significante. Ele introduz o sujeito como qualidade representacional: ele é o suposto saber da diferença que conduz de um significante a outro, fazendo o deslizamento da cadeia de significantes. A diferença entre estas condições de representação é fundamental, pois faz incidir a suposição de um sujeito... o significante não é um efeito de sentido, mas ele é responsável por pacificar, adormecer ou despertar. Ele jamais se expressa de forma isolada, ele sempre se sobressai em relação aos outros, visto que não se concebe significante fora da cadeia. No caso do signo, ele pode ser encontrado na cadeia significante, o signo nada mais é que um significante desencadeado, que buscará elaborar uma nova cadeia que lhe faça sentido, ou seja, uma nova interpretação objetivando encandeá-lo outra vez (Teixeira, 2006)” Samuel L.Bezerra Lins

 “A própria possibilidade do inconsciente é condicionada pelo fato de que um significante pode insistir no discurso de um sujeito, sem por isso estar associado à significação que poderia importar para ele.” Será através do discurso que a percepção se concatena  elabora uma percepção compartilhada num espaço de intermediação dialética (Teixeira, 2006)”

Toda relação tem uma metáfora onde há transferência e contratransferência. O analisando transfere para o analista o desejo de ser e o analista contratransfere para o analisando o “supostosaber”. O que faz a metáfora funcionar é a humanização do indivíduo, uma vez que produz uma referência para ele. Ao apresentar ao indivíduo uma experiência vivida, parecida ou igual, ele se humaniza e se acalma, pois ele sente que é mais um lutando, mesmo que sofra mais do que o outro, mas não se sente sozinho.

Para não ficar na fantasia é preciso falar para significar, é preciso enxugar. Ao decifrar a metáfora, o indivíduo encontra seu destino e para isso é preciso contar as histórias para poder se lamentar, chorar, alegrar-se porque se permanecer na fantasia, a metáfora não ganhará significado e, portanto, não estará enxuto.

Tomemos o exemplo de um político corrupto. Ele recepciona o espelho do outro e quanto mais ele ofende mais o indivíduo que é ofendido se descobre, uma vez que o político é o reflexo de um povo que por ser mais inculto, tonaliza o voto nas suas  vulnerabilidades, na sua corrupção. O povo precisa reclamar que não tem apoio, que não ligam para ele. Essa reclamação é para entender o cenário que também é válido para todas as profissões onde se tem uma ideia de eficiência ou não. Ao entender a corrupção, o compromisso se instala no indivíduo, pois o uso da corrupção para tentar obter o resultado gera uma frustração quando esse resultado não vem e essa frustração é que mostra que a ação é corrupta. Se lançar um olhar para o cenário político perceberemos que quanto mais o caos se instala na cidade, mais o povo pede um político honesto.

Quando há empatia, o agalma (prêmio) está escondido.  Um casal reclama que não há diálogo. Um diz que tem uma dor de cabeça e o outro diz ter uma dor na perna. Que um está cansado e o outro também. Aqui como no caso do corrupto as metáforas podem apresentar uma farsa para o indivíduo usar seguidamente. Então, como ser um político de verdade?

Um casal reclama uma intervenção específica e um espera que o outro se movimente dentro da relação, mas o indivíduo não consegue dizer quem ele é na relação porque há uma impotência do mesmo frente ao interlocutor, porque não há alteridade com saída. O casal precisa entrar no caos para encontrar uma saída.


A mulher é o agalma. Durante algum tempo a mulher arquetipicamente teve que se conter, reprimir para que o horizonte masculino se ampliasse, depois ela teve que reduzir sua repressão, aumentar sua expressão social para que o homem reduzisse seu horizonte exageradamente ampliado. A meta da civilização agora é a busca do equilíbrio. Historicamente o masculino cresce e passa do limite, ao acontecer isso surge uma angústia que sinaliza a busca de um propósito.

FAZEMOS PARTE DE UM TEATRO, MAS QUEM ACHA O AGALMA LIDA COM ESSE TEATRO SEM CONFLITOS.

Psicanalise
Atendimentos na Zona Sul e Zona Norte
Beth.psicanalista@yahoo.com.br

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