O agalma (valor
divino, objeto que liga o homem com a divindade, prêmio) vai se realizando na alma e fora do
ego, mas tem regras que são difíceis porque se não há objeto de desejo, não há
como ir em direção à ele.
Ex.: Pessoa que
tenta comprar mais um imóvel, mas não consegue por mais que trabalhe.
Enunciado:
comprar um imóvel
Regra: não devo concluir esse enunciado
Estímulo: inibir a perspectiva de gozo
Atos
sexuais: perspectiva de gozo que ela não consegue.
Prazer:
trabalhar
No enunciado o
indivíduo apresenta uma ferramenta para se alimentar, ou seja, ele se alimenta
do desejo de comprar um imóvel para trabalhar mais, chamando a atenção para o
fato de estar com fome. Essa ferramenta pode ser qualquer coisa que pretenda
fazer e é oriunda da compensação de um desejo imaginário, proveniente de uma
castração, uma necessidade de ostentar uma diferenciação. Ex.: comprar carros
caros, joias...
Ex.: A mãe vê a
filha brincando com meninos e lhe diz que irá prendê-la em casa, já que a filha
se assustou com o fato de ter ficado presa, por acidente, em seu quarto. A
filha quando adulta faz chaves como se estivesse abrindo todas as portas de sua
casa. Existe aqui uma dificuldade erótica onde há uma castração, o ato sexual
não sai. A mãe se transformou em um dragão e traz a filha sobre seu jugo.
Para Jung a
castração começa com a fome a partir do nascimento, sendo que os elementos
constituintes da construção da personalidade se instalam nesse ponto. Para o
homem é o trauma da castração, da perda simbólica do falo, da necessidade de
ter acesso ao Nome-do-Pai (o que dá consistência), instância de poder que precisará
ser recuperada de alguma forma. Portanto, instaura-se aqui uma carência que só
poderá ser preenchida parcialmente ou transformada em narrativa na clínica
psicanalítica, quando, então, no processo de transferência, o analista assume
ser o “objeto a” (a letra
"a" em minúsculo qualifica uma alteridade, alguma coisa que está para
além do sujeito desejante, que ele quer para si e que nunca é alcançado), tornando-se, ele mesmo, este “outro do desejo” do analisando
para que ele o supere.
Para a construção
da linguagem Lacan vai usar a fase do espelho que acontece nos primeiros dois
anos de vida de uma criança onde se instala o narcisismo, onde a mesma quer se
ver como imaginário e ela é igual ao do primitivo, tem todas as imagens. A
criança vai separando quem ela é e quem ela não é. É por isso que há o ciclo da
transformação, de um extremo ao outro, inflação e humilhação para ajudá-la a se
constituir. Nota-se que é o masculino que dará nome aos objetos porque é
curioso, penetrador, “enfia o seu olhar no escuro”. Na projeção ele é o todo, mas a
incorporação das partes é dolorida e toda ideia que ele tem de si é imaginário.
A primeira
relação de espelho é com a relação com o outro. Eu rio para ele e ele ri para
mim, ou vice versa. Se a criança não é capaz de magnetizar o outro, ela sucumbe.
Ela vai juntando os pedaços para ser inteira, pois a fragmentação (os pedaços) é projetada. Pode-se notar
a psicose com desenhos de traços mostrando que o indivíduo está fragmentado.
Assim, quando falta algo, falta um pedaço, está com a personalidade
fragmentada. Vê-se como um monstro. Se o sujeito se olha no espelho e sente que
não está completo, sente que sempre será um espelho. Ele sempre será
fragmentado.
Um índice dessa impossibilidade é
representado, nos casos de psicose,
por uma radical proliferação de significantes (significante = uma imagem acústica, que é a
junção de letras mais o som que essas letras produzem, como um ato falho, um
chiste, um sonho e é desprovido de sentido, involuntário...). O delírio se caracteriza pelo
deslizamento de sentido a um ponto em que a proliferação resulta na
desamarração do código. É justamente esse um dos dramas do psicótico: a busca
pelo um a mais de sentido faz o significante não ter a mínima relação com o
significado.
Na psicose o
imaginário está separado e, portanto ele é tomado como literal. No neurótico há
uma obsessão em fazer isso ou aquilo. O psicótico não tem uma intervenção
compensatória, ele, p.ex., prende pessoas porque ele está preso na psicose, é
como acuar o outro e dizer: Como você sai agora?
No entanto, um
indivíduo nunca irá se completar. Se isso acontecer, ele morrerá porque a
última peça se encaixou, mas sempre que existir vida, existirá movimento e a
individuação tem o ego estruturado para ir elaborando as faltas. No entanto, a
morte exerce uma pressão de compromisso que instaura a obrigação de roubar dos
deuses a parte que precisa para se conscientizar. Essa morte não é uma meta e
sim uma dinâmica para compreender a individuação, porque sempre se estará em
falta e sempre será projetada, porém as características se tornam graves quando
a falta é exagerada.
Para Lacan a fase
do espelho é, eu quero me ver, quero ver meu próprio imaginário.
Ex.: Convite para
almoçar onde duas pessoas discordam com a escolha do local.
Perspectiva de desejo: fome a ser saciada, tem mecanismo de
compensação. Há uma compensação por falta, pois um irá negar todas as propostas
do outro, é como a criança que no final diz que não quer ir mais, retardando o
gozo mediante algum tipo na especificidade, na convocação para esse gozo.
Enunciado:
almoçar . É a experiência de falta a partir da mãe que dá esse alimento
numa condição específica (como, o quê,
quando. A mãe se coloca no lugar da criança.
Imagem que
configuraria o belo é o retorno do externo para saber se chegou ao belo e se
essa imagem do belo implica num sofrimento e se isso para ele é certo.
No Banquete de
Platão, Alcebíades é rejeitado por Sócrates quanto a sua beleza. Alcebíades não
entende porque Sócrates rejeita sua beleza, que a rejeição de Sócrates é sua
própria rejeição e que ele precisa ser rejeitado. Faz parte da construção
porque há uma falta, uma vez que a imagem que configuraria o belo para Alcebíades
é o retorno do externo, do Sócrates, mas como esse retorno não aconteceu, Sócrates
mostra o quanto se sente rejeitado.
O indivíduo olha
para algo e o define pela sua falta que é possível ou impossível, quer ou não
quer. A falta produz o efeito de interatividade e o desejo dele é ser o desejo
da mãe, aí ele se torna o espelho. Ao reproduzir o espelhamento ele faz isso
com todo mundo e faz as mesmas cobranças que o impõe. No entanto, a falta
produz um vício, um fantasma sempre repetitivo, que se repete a todo o momento,
em qualquer situação e todas as frustrações levam a uma compensação. Ex.: A
criança queria um bolo de chocolate e a mãe ofereceu um de milho. Quem não
gosta do bolo de chocolate é a mãe e não a criança. Se abrir mão do vício, abre
mão do desejo da mãe – isso é Édipo.
A falta produz um
“fantasma” que se repete o tempo todo em todas as relações do indivíduo. Como o
indivíduo não se relaciona com o desejo que tem para chegar a entender que não
era o que queria, aciona um gatilho que é o vício, um alternativo que interfere
a ponto de o indivíduo achar que se trata de um desejo seu (Comprar
mais um imóvel).
Atendimentos na
Zona Sul e Zona Norte
e-mail:
beth.psicanalista@yahoo.com.br
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