segunda-feira, 20 de julho de 2015

FALTA, CASTRAÇÃO E PSICOSE

O agalma (valor divino, objeto que liga o homem com a divindade, prêmio) vai se realizando na alma e fora do ego, mas tem regras que são difíceis porque se não há objeto de desejo, não há como ir em direção à ele.

Ex.: Pessoa que tenta comprar mais um imóvel, mas não consegue por mais que trabalhe.
        Enunciado:    comprar um imóvel
        Regra:             não devo concluir esse enunciado
        Estímulo:       inibir a perspectiva de gozo
        Atos sexuais: perspectiva de gozo que ela não consegue.
        Prazer:           trabalhar

No enunciado o indivíduo apresenta uma ferramenta para se alimentar, ou seja, ele se alimenta do desejo de comprar um imóvel para trabalhar mais, chamando a atenção para o fato de estar com fome. Essa ferramenta pode ser qualquer coisa que pretenda fazer e é oriunda da compensação de um desejo imaginário, proveniente de uma castração, uma necessidade de ostentar uma diferenciação. Ex.: comprar carros caros, joias...

Ex.: A mãe vê a filha brincando com meninos e lhe diz que irá prendê-la em casa, já que a filha se assustou com o fato de ter ficado presa, por acidente, em seu quarto. A filha quando adulta faz chaves como se estivesse abrindo todas as portas de sua casa. Existe aqui uma dificuldade erótica onde há uma castração, o ato sexual não sai. A mãe se transformou em um dragão e traz a filha sobre seu jugo.
 
Para Jung a castração começa com a fome a partir do nascimento, sendo que os elementos constituintes da construção da personalidade se instalam nesse ponto. Para o homem é o trauma da castração, da perda simbólica do falo, da necessidade de ter acesso ao Nome-do-Pai (o que dá consistência), instância de poder que precisará ser recuperada de alguma forma. Portanto, instaura-se aqui uma carência que só poderá ser preenchida parcialmente ou transformada em narrativa na clínica psicanalítica, quando, então, no processo de transferência, o analista assume ser o “objeto a” (a letra "a" em minúsculo qualifica uma alteridade, alguma coisa que está para além do sujeito desejante, que ele quer para si e que nunca é alcançado), tornando-se, ele mesmo, este “outro do desejo” do analisando para que ele o supere.

Para a construção da linguagem Lacan vai usar a fase do espelho que acontece nos primeiros dois anos de vida de uma criança onde se instala o narcisismo, onde a mesma quer se ver como imaginário e ela é igual ao do primitivo, tem todas as imagens. A criança vai separando quem ela é e quem ela não é. É por isso que há o ciclo da transformação, de um extremo ao outro, inflação e humilhação para ajudá-la a se constituir. Nota-se que é o masculino que dará nome aos objetos porque é curioso, penetrador, “enfia o seu olhar no escuro”. Na projeção ele é o todo, mas a incorporação das partes é dolorida e toda ideia que ele tem de si é imaginário.

A primeira relação de espelho é com a relação com o outro. Eu rio para ele e ele ri para mim, ou vice versa. Se a criança não é capaz de magnetizar o outro, ela sucumbe. Ela vai juntando os pedaços para ser inteira, pois a fragmentação (os pedaços) é projetada. Pode-se notar a psicose com desenhos de traços mostrando que o indivíduo está fragmentado. Assim, quando falta algo, falta um pedaço, está com a personalidade fragmentada. Vê-se como um monstro. Se o sujeito se olha no espelho e sente que não está completo, sente que sempre será um espelho. Ele sempre será fragmentado.

Um índice dessa impossibilidade é representado, nos casos de psicose, por uma radical proliferação de significantes (significante = uma imagem acústica, que é a junção de letras mais o som que essas letras produzem, como um ato falho, um chiste, um sonho e é desprovido de sentido, involuntário...). O delírio se caracteriza pelo deslizamento de sentido a um ponto em que a proliferação resulta na desamarração do código. É justamente esse um dos dramas do psicótico: a busca pelo um a mais de sentido faz o significante não ter a mínima relação com o significado.

Na psicose o imaginário está separado e, portanto ele é tomado como literal. No neurótico há uma obsessão em fazer isso ou aquilo. O psicótico não tem uma intervenção compensatória, ele, p.ex., prende pessoas porque ele está preso na psicose, é como acuar o outro e dizer: Como você sai agora?

No entanto, um indivíduo nunca irá se completar. Se isso acontecer, ele morrerá porque a última peça se encaixou, mas sempre que existir vida, existirá movimento e a individuação tem o ego estruturado para ir elaborando as faltas. No entanto, a morte exerce uma pressão de compromisso que instaura a obrigação de roubar dos deuses a parte que precisa para se conscientizar. Essa morte não é uma meta e sim uma dinâmica para compreender a individuação, porque sempre se estará em falta e sempre será projetada, porém as características se tornam graves quando a falta é exagerada.

Para Lacan a fase do espelho é, eu quero me ver, quero ver meu próprio imaginário.
Ex.: Convite para almoçar onde duas pessoas discordam com a escolha do local.
Perspectiva de desejo:  fome a ser saciada, tem mecanismo de compensação. Há uma compensação por falta, pois um irá negar todas as propostas do outro, é como a criança que no final diz que não quer ir mais, retardando o gozo mediante algum tipo na especificidade, na convocação para esse gozo.
Enunciado:     almoçar . É a experiência de falta a partir da mãe que dá esse alimento numa condição específica (como, o quê, quando. A mãe se coloca no lugar da criança.

Imagem que configuraria o belo é o retorno do externo para saber se chegou ao belo e se essa imagem do belo implica num sofrimento e se isso para ele é certo.

No Banquete de Platão, Alcebíades é rejeitado por Sócrates quanto a sua beleza. Alcebíades não entende porque Sócrates rejeita sua beleza, que a rejeição de Sócrates é sua própria rejeição e que ele precisa ser rejeitado. Faz parte da construção porque há uma falta, uma vez que a imagem que configuraria o belo para Alcebíades é o retorno do externo, do Sócrates, mas como esse retorno não aconteceu, Sócrates mostra o quanto se sente rejeitado.

O indivíduo olha para algo e o define pela sua falta que é possível ou impossível, quer ou não quer. A falta produz o efeito de interatividade e o desejo dele é ser o desejo da mãe, aí ele se torna o espelho. Ao reproduzir o espelhamento ele faz isso com todo mundo e faz as mesmas cobranças que o impõe. No entanto, a falta produz um vício, um fantasma sempre repetitivo, que se repete a todo o momento, em qualquer situação e todas as frustrações levam a uma compensação. Ex.: A criança queria um bolo de chocolate e a mãe ofereceu um de milho. Quem não gosta do bolo de chocolate é a mãe e não a criança. Se abrir mão do vício, abre mão do desejo da mãe – isso é Édipo.

A falta produz um “fantasma” que se repete o tempo todo em todas as relações do indivíduo. Como o indivíduo não se relaciona com o desejo que tem para chegar a entender que não era o que queria, aciona um gatilho que é o vício, um alternativo que interfere a ponto de o indivíduo achar que se trata de um desejo seu (Comprar mais um imóvel).


Atendimentos na Zona Sul e Zona Norte

e-mail: beth.psicanalista@yahoo.com.br

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