O conceito de real é o natural,
não precisa ser nomeado porque não há obrigação para a verbalização, uma vez
que pensar e nomear é uma construção da imaginação. Ao se tornar ignorante da
necessidade de verbalização do desejo, uma pessoa em depressão perde o desejo,
pois não há consideração sobre o objeto.
“Depressão é de-pressão: o sufixo “de” indica perda de pressão na
existência. Perda de energia, de vitalidade, de desejo, de apetite, de sono, de
esperança, de tempo, de prazer. No estado depressivo, a pessoa se confronta com
uma falta que, em vez de ser suporte de um desejo, provoca a abdicação do
desejo. Trata-se de uma falta articulada a uma perda que não consegue ser
simbolizada pela linguagem. Depressão não é doença, não existe como tal: é
efeito da linguagem na sua dificuldade de nomear a falta, o objeto sexual.”
(Cláudio Pfeil)
Quando há relacionamento
com algo o indivíduo verbaliza e a emoção registra o objeto como agalma. Para
Aristóteles, no Banquete de Platão, a relação do sujeito com o objeto produz
uma ideia. Temos que combinar o Eidos (forma a priori para Platão
e arquétipo para C.G.Jung) com o objetos porque o objeto tem uma ideia de relação para
chegar ao nomear e lhe causa sofrimento.
O discurso de Alcebíades
revela toda a ambivalência da paixão. Ele diz sobre Sócrates: frequentes vezes cheguei a desejar que não mais estivesse vivo;
mas se tal acontecesse, bem sei que minha angústia seria maior.
AGALMA, termo grego que pode ser traduzido por ornamento, tesouro,
objeto de oferenda aos deuses, ou, de modo mais abstrato, valor. Representa o
ponto pivô da conceituação lacaniana do objeto causa do desejo “o objeto a” (a letra "a" em minúsculo qualifica uma alteridade,
alguma coisa que está para além do sujeito desejante, que ele quer para si e
que nunca é alcançado, é o objeto de desejo). Este é o
objeto tão caro à Lacan.
O fato de Agalma ser
originariamente uma noção religiosa absolutamente não implica que o que ele
indica deva recobrir-se de interesse religioso. A idéia de Agalma denuncia as religiões como
criações imaginárias fomentadas pela ilusão da existência concreta de um Bem
Supremo. Não seria por menos que toda religião necessite de um tipo qualquer de
palavra revelada, isto é, ditada por alguma divindade, de uma palavra não
escrita ou ditada através do simbólico, mas vinda diretamente do real, a
forclusão que cria uma alucinação psicótica. (FORCLUSÃO -> Freud: expulsão de um conteúdo
da experiência para fora do eu, em função do princípio do prazer. A existência
na realidade encontrar-se-ia denegada a sua representação. negação da
identificação, na medida em que esta assenta na assunção do patronímio. Lacan: falta que dá à psicose
a sua condição essencial, com a estrutura que a separa das neuroses. Trata-se
de um significante, o Nome-do-Pai,
que foi rejeitado da ordem simbólica da linguagem, reaparecendo no real, por
exemplo, sob forma de alucinação. Este significante tem como correlativo o
significado da castração. 0 sujeito psicótico, não tendo passado pela castração
simbólica, vê-se, em determinadas condições, confrontado com a castração real.). Apesar
disto, a busca pelo objeto total, o mais maduro, o mais elevado, tendo por
satisfação a sexualidade genital e representando a saúde mental, teria sido uma
das ilusões iniciais da psicanálise. Uma ilusão bastante coerente em um Freud e
toda uma geração de analistas criada pelo modelo etnocêntrico europeu. Vimos
como o objeto do desejo não é aquele cujas qualidades específicas satisfariam o
desejo por sua presença ou o frustrariam por sua ausência, sua função é ser
causa do desejo, suscitá-lo.
O objetivo de Sócrates era que os discípulos – desejados,
passivos – se apaixonassem por ele, mas não o tivessem apenas como objeto, como
a ilusão de um objeto total. A insatisfação sexual, o realce da falta inclusa
em todo desejo e todo amor, tinha como finalidade que ocorresse a identificação
com ele próprio, Sócrates. Ao invés de serem possuídos ou possuírem fisicamente
Sócrates, que elaborassem o luto desta impossibilidade, passando a ser como
ele, amando o que ele amava, a filosofia.
O verdadeiro objetivo socrático era a instauração da metáfora do amor, passar do ter ao ser, que os discípulos o substituíssem como amantes, ativos e desejantes, caçando que nem ele a coerência do significante como única forma de se atingir a verdade. A falta implícita em todo Eros-desejo é que cria o espaço capaz do encontro desta verdade, não um “eu sei o que é melhor para você”, que é o discurso do político ou do mestre, por que ao mesmo tempo esta seria a verdade de cada um, que só pode ser descoberta a partir de si mesmo. Pode-se parodiar Lacan e se dizer: parece-me que não se pode dar melhor definição da Psicanálise.
Não existindo outro também não existe sujeito, a relação transferencial necessita de um terceiro, cuja finalidade última seria a de redirecionar todo desejo a seu verdadeiro objeto. Esta é a demanda consciente ou inconsciente de todo paciente, que o analista lhe ensine a amar melhor e ter algum prazer que lhe satisfaça mais.
Bibliografia:
Anchyses
Jobim Lopes -Revista Estudos de Psicanálise n° 26 - Círculo Brasileiro de Psicanálise- Seção RJ
Atendimentos na
Zona Sul e Zona Norte
e-mail: beth.psicanalista@yahoo.com.br
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