SOLIDÃO
Em grego
solitário quer dizer solteiro, unificado.
1. Como era a solidão na pré-história?
Estudos feitos na
história da África, em uma tribo de índios, constataram que membros que eram
expulsos da tribo passavam a vagar solitariamente e tinham grande probabilidade
de morrer, pois no passado pré-histórico isso era uma condenação à morte e a
não deixar descendentes.
Esse índio necessitava
estar agregado a um grupo porque lhe dava acesso a fontes de alimentos e a
chances de acasalamento, além de se sentir protegido dos predadores.
2. O que significa retirar o indivíduo
de seu grupo?
A fome é um indicador
de que precisamos de nutrientes para o nosso corpo, a dor física sugere que
possamos ter uma lesão nos tecidos. Com fome o indivíduo busca algo para comer
e com dor ele busca a cura. Pensemos na solidão. Ela produz ansiedade e dor
emocional que nos pressiona a buscar conexão com um grupo, que também é vital
para o ser humano. A solidão se torna uma ameaça à sobrevivência e à
reprodução.
3. Mas, todos percebem a solidão no
mesmo grau de intensidade?
Não, as pessoas
exploradoras, aquelas personalidades mais extrovertidas, que buscam novidades e
tem pouco medo do desconhecido são as que pouco sentem a solidão. Estão sempre
ativas e cobrem todo o seu tempo com coisas a fazer.
4. Quais são os males que a solidão pode
nos trazer?
Doença de Alzheimer,
transtornos do sono, problemas cardiovasculares, aumenta o risco de demência e
morte prematura e é uma das principais causas da depressão.
5. A solidão dói?
Sim, a solidão dói
literalmente. Ela dificulta o controle dos pensamentos, emoções e impulsos de
prazer. A pessoa busca um alívio para essa dor, lançando mão de estratégias
mais imediatas para se sentir melhor como: consumir mais doces e comidas com
gordura, alcoolismo, sedentarismo e uso de drogas. Num primeiro momento pode
até aliviar a dor, mas a pessoa aumenta ainda mais o sentimento de solidão num
segundo momento porque o doce ou qualquer outro artifício não lhe cobrirá o
vazio que sente na alma.
6. As redes sociais, como Facebook, é um
meio de as pessoas se sentirem menos solitárias?
A nossa sociedade vive
um paradoxo entre a globalização e o individualismo. É uma ilusão pensarmos que
sim, que as pessoas se sentem menos solitárias. Vejamos: a pessoa se conecta e
acredita que as pessoas que estão trocando mensagens estão se integrando, que
as fotos mostram uma felicidade sem igual e que estão com uma vida social
intensa, aí, ela, a pessoa que se conectou, olha para si, para sua vida e se
afunda ainda mais dentro da sua solidão, porque ela não tem tudo aquilo que os
outros tem, amizades, beleza, juventude.
7. O que a pessoa quer quando se sente
só?
Ela quer que seus
desejos sejam atendidos, há uma grande insatisfação que ela nem sabe do que é. Ela
quer o olhar de que ela é especial, especial para as pessoas que ela estima,
ama. Ela quer ser solicitada pelos conhecimentos que adquiriu na vida. Ela quer
ser valorizada. Mas isso não será possível se ela não fizer um trabalho de
autoconhecimento para encontrar nela todas essas qualidades, pois quem quer se
juntar à uma pessoa deprimida, uma pessoa que se sente desvalorizada, que só
tem pensamentos negativos? Acho difícil alguém dizer que lhe faz bem uma pessoa
com essas qualidades negativas.
8. Como uma pessoa chega ao estado de
solidão?
A rigidez e a
inflexibilidade, a falta de leveza, de descontração faz com que as pessoas
percam a simpatia. Essas pessoas, com o tempo, acabam por ter um linguajar mais
pessoal e direto, não conseguem se exprimir com clareza sobre algo que se lhe
apresenta. São assaltadas de dentro, pelo inconsciente, reúnem provas que sejam
contrárias, contra coisas que parecem totalmente supérfluas aos estranhos. Elas
estão sempre achando alguma coisa e acreditam no que acham ser o certo, não
dando vez aos outros. São pessoas que não aceitarão críticas, por mais justa
que forem. Há um envenenamento pelos seus sentimentos de amargura. A pessoa
aqui, vai se tornando isolada dos demais e cresce a luta com a influência
inconsciente que, aos poucos, o vai paralisando e consumindo interiormente.
Essa pessoa é vista como perigosa e suspeita, pois não se sabe,
antecipadamente, qual será a novidade que ela irá propor.
9. Até aqui, a solidão foi colocada como
negativa. Há outro modo de vê-la?
Sim. Até aqui falamos
das pessoas que estão inconscientes de suas qualidades negativas. Vamos então,
ver o outro “lado da moeda”. As pessoas em um nível de consciência mais
avançado também podem estar em um estado de solidão. Essas pessoas são aquelas
que não precisam fazer parte de um grupo quando não lhe diz respeito para
poderem se sentir acompanhadas. No processo de individuação, termo usado por
C.G.Jung, grande pesquisador da alma humana, que é um processo pelo qual a
pessoa se torna um indivíduo psicológico, ou seja, onde há um equilíbrio e um
relacionamento entre consciente e inconsciente, a pessoa se sente bem consigo
mesma e pode ficar só sem desgaste emocional. É uma solidão que não se trata de
ser antissocial, como vimos acima, mas que “pode devolver-nos ao mundo com
renovada energia para a ação e um sentido mais aguçado de nossa própria
identidade e de nosso papel especial em relação ao mundo”. Uma pessoa que tenha atingido um segurança
interior, continuará a ser envolvida na vida, mas de um modo diferente.
10.
Qual
é o papel da solidão?
Conta a história que
os hebreus viviam a experiência da solidão como algo positivo, não a percebendo
como trágica, pois o sentido da solidão é o deserto, a comunicação direta com
Deus é alcançada. Forçar o indivíduo a olhar para dentro de si e a navegar nas
águas do mundo interior para trazer as riquezas que lá estão escondidas. Uma
condição para que isso aconteça é ser uma pessoa guerreira e corajosa. Se não
falamos o que sentimos, não buscamos o que precisamos, quando não colocamos
limites na vida para que ela nos machuque menos, não fomos abandonados pelo
mundo, fomos abandonados por nós mesmos.
11.
O
que a solidão traz para a sociedade?
Muitas obras
consagradas no âmbito da literatura, música, teatro e outros, foram concebidas
a partir do isolamento de seus autores, mas também para aqueles que não são
autores, um novo olhar diante do próximo, uma compreensão, uma nova forma de se
colocar no lugar do outro.
12.
Como
C.G.Jung, se refere à solidão?
“...tendo atrás de si
tudo o que ruiu e foi superado, e diante de si o nada, do qual tudo pode
surgir.”
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