segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O que o indivíduo pensa ao se ver no espelho? Fragmentação, desejo e a fala.

Tudo o que ele pensa sobre si é a partir de como ele é olhado.  Alguém pensou o indivíduo e ao pensá-lo fala dele, assim o indivíduo se modula, criando o que o Jung chamou de persona. O indivíduo só cabe no pensamento de quem o fala, que o define como tal, criando uma fragmentação. Nota-se que o indivíduo que é visto pelos pais tem buracos na cadeira de significantes. Dentro desse olhar limitante do outro o indivíduo se torna limitador para o outro também.

O inconsciente se expressa através da linguagem para facilitar o gozo (intensidade de energia que cujo limite ainda não se instaurou) do desejo. Construímos o caminho mais rápido para uma metonímia para a aproximação de quem somos.

A metonímia é a substituição de uma palavra por outra quando entre ambas existe uma relação de proximidade de sentidos que permite essa troca. É uma figura de linguagem que surge da necessidade do falante ou escritor dar mais ênfase à comunicação. Ex.: O autor pela obra – ler Machado de Assis

Na terapia o indivíduo procura ampliar sua personalidade. Essa cadeia de significantes (atos falhos, cistes, apelos, sonhos) entrelaça com outras para formar o que o Jung chamou de cadeia arquetípica, sentir. Assim como os arquétipos, nenhum significante comportará um significado completo e irredutível, mas deslizará constantemente por uma cadeia de significantes arbitrários, sem nunca ter fim. Só uma atitude comandada pela necessidade pragmática de comunicação é que pode interromper, barrando esse sentido sempre em aberto do significante e fazê-lo cristalizar-se por algum tempo. Mas o desejo sempre conseguirá fazer que os significantes se movam e falará através das fissuras deixadas cobertas.

“O trabalho analítico baseia-se exclusivamente nos significantes, é uma cura pela fala (talking cure) diz Freud. Trata-se de fazer os significantes se encadearem uns nos outros, de produzir uma corrente. Mesmo quando o que se diz parece evidente, para o analista, os significantes nunca são suficientes para uma compreensão. Nunca. Pois na verdade o analista não busca compreender, mas sim fazer com que o analisando produza discurso. O sentido permanece sempre aberto. Quando o analista pergunta: e então? – está implícito: e depois?”( Cláudio Pfeil)

O indivíduo durante a vida inteira vai fazer a mímica diante das argumentações. Na cadeia de significantes esburacada ele e o outro estão dentro de uma aproximação funcional que não revela o propósito correto. O Eu não se vê inteiro para o outro e é isso que o angustia. É como se definisse por partes.

Ex.: Mulher se vende como um corpo porque é assim que o outro a vê. Homem precisa se ver para ampliar sua visão para que ela se modifique.

O indivíduo sendo do jeito que o outro quer instala um vazio e em não conseguir decifrar o outro, sofre pela sua falta. Não existe um agressor fora e sim aquilo que você quer ver. O baile Funk é uma tentativa de sair do oferecimento do corpo, oferecendo-se, porque se o indivíduo se isola não terá uma perspectiva de cura.

A partir dessa fragmentação, ele desejará ser mais inteiro que o olhar que o outro lhe permite e quando descobre que não existe emocionalmente todo o seu querer esta circunscrito ao que ele é. A angústia de não ser decifrado o leva à morte ou a matar o outro.

O indivíduo que não nasceu é aquele que não consegue se ver com tendência a não terminar nada do que começa. Mas é só porque existe o grande Outro (Self, Divino) que não morremos pelo olhar do pequeno outro.

O Nome do Pai tem a lei e não deixa se inundar pelo complexo, não se deixa explodir na cadeia de significantes para não se tornar um Deus.  No seminário 5 – as formações do inconsciente (Lacan, 1957), essa lógica é chamada de lógica da castração. É a lógica da metáfora paterna, que tem o Nome-do-Pai (aquele que dá consistência) como o significante que faz a função de exceção para que a cadeia dos outros significantes se estruture como lei. Se couber no limite compreensível do Grande Outro, o sujeito se significa e a angústia cessa.

O que impede o casal de se amar é que eles estão no campo dos pais. Cada um apresenta o limite do que vê no outro criando uma frustração que é percebida pelo ataque de um parceiro ao outro. Se casar porque qualquer motivo que não o conhecimento, o casamento degenera e acaba. Porém quando não apontar defeitos no outro o casamento de fato de instala.


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