Mas quando sobreveio a noite, os mortos avançaram de novo, com lamentável aspecto, e disseram: Tem mais uma coisa que esquecemos de mencionar. Ensina-nos sobre o homem.
O homem é pórtico, pelo qual, vindos do mundo exterior de deuses, demônios e almas, passais para o mundo interior; saindo do mais vasto para penetrar no mais ínfimo. Pequeno e efêmero é o homem. Já se encontra atrás de vós e mais uma vez vos achais no espaço sem fim, no menor ou mais íntimo infinito. A incalculável distância paira uma estrela solitária no zênite.
Esse é o único deus desse homem. Esse o seu mundo, seu pleroma, sua divindade.
Nesse mundo é homem Abraxas, o criador e destruidor de seu próprio mundo.
Essa estrela é o deus e o destino do homem.
Esse o único deus que o guia. Nele vai o homem repousar. Rumo a ele segue a longa jornada da alma depois da morte. Nele brilha como luz tudo o que o homem traz de volta do mundo mais vasto. A esse único deus o homem erguerá suas preces.
A prece intensifica a luz da estrela. Lança uma ponte sobre a morte. Prepara a vida para o mundo mais ínfimo e aplaca os desejos irrealizáveis do mais vasto.
Quando o mais vasto esfria, a Estrela arde.
Entre o homem e o seu deus único nada se interpõe, desde que se possa desviar os olhos do espetáculo flamejante de Abraxas.
O homem aqui, deus lá.
A fraqueza e o nada aqui, lá o poder eternamente criador.
Aqui, nada além de trevas e gélida umidade.
Lá completamente sol.
Então os mortos se calaram e subiram como fumaça de fogueira de pastor que passou a noite zelando pelo rebanho.
ANAGRAMA:
NAHTRIHECCUNDE
GAHINNEVERAHTUNIN
ZEHGESSURKLACH
ZUNNUS
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